São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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RUY CASTRO

Chacrinha a bordo

RIO DE JANEIRO - Pronto. As operadoras venceram e eles, finalmente, chegaram ao último reduto: o interior dos aviões. Refiro-me aos telefones celulares. Os jornais deram ontem: o uso dos celulares foi liberado durante os vôos no espaço aéreo europeu. Com isso, podemos apostar que, em breve, a novidade se estenderá também ao nosso lindo céu azul.
Já não basta a jequice dessas companhias aéreas que nos obrigam a ver televisão com o avião no ar e nos mimoseiam com os mais irritantes comerciais quando queremos apenas conversar em voz baixa com alguém, ler um livro ou cochilar. Teremos agora de aturar os fascinantes detalhes sobre a vida pessoal e profissional do passageiro ao lado ou no banco de trás.
É fácil imaginar como será. Antes de sair do solo, você já ficará sabendo tudo sobre as maquinações financeiras do seu vizinho à direita, o estado de saúde do caçula da passageira à esquerda (com o resultado do exame de fezes que o guri acabou de fazer) e, vindo não se sabe de onde no avião, o rescaldo de uma reunião de condomínio em que se discutirão as condições dos barbarás e das caixas de gordura de um edifício em Jurujuba ou no Itaim Bibi.
Não há mais separação entre o público e o privado -é tudo um grande "Big Brother". Tornamo-nos cúmplices dos aspectos mais íntimos da vida alheia, porque, em qualquer lugar, as pessoas falam aos celulares como se estivessem na cozinha de suas casas. E de que me interessa saber que uma decepcionada Maricotinha não poderá participar do torneio de natação do colégio por estar menstruada?
Nos vôos internacionais, para não ouvir a chacrinha dos celulares, sempre haverá a opção dos head-phones em algum canal de música. Mas, na Ponte Aérea, serei obrigado a transgredir meus princípios e me converter, quem diria, ao iPod.


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