|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Chacrinha a bordo
RIO DE JANEIRO - Pronto. As
operadoras venceram e eles, finalmente, chegaram ao último reduto:
o interior dos aviões. Refiro-me aos
telefones celulares. Os jornais deram ontem: o uso dos celulares foi
liberado durante os vôos no espaço
aéreo europeu. Com isso, podemos
apostar que, em breve, a novidade
se estenderá também ao nosso lindo céu azul.
Já não basta a jequice dessas
companhias aéreas que nos obrigam a ver televisão com o avião no
ar e nos mimoseiam com os mais irritantes comerciais quando queremos apenas conversar em voz baixa
com alguém, ler um livro ou cochilar. Teremos agora de aturar os fascinantes detalhes sobre a vida pessoal e profissional do passageiro ao
lado ou no banco de trás.
É fácil imaginar como será. Antes
de sair do solo, você já ficará sabendo tudo sobre as maquinações financeiras do seu vizinho à direita, o
estado de saúde do caçula da passageira à esquerda (com o resultado
do exame de fezes que o guri acabou
de fazer) e, vindo não se sabe de onde no avião, o rescaldo de uma reunião de condomínio em que se discutirão as condições dos barbarás e
das caixas de gordura de um edifício
em Jurujuba ou no Itaim Bibi.
Não há mais separação entre o
público e o privado -é tudo um
grande "Big Brother". Tornamo-nos cúmplices dos aspectos mais
íntimos da vida alheia, porque, em
qualquer lugar, as pessoas falam aos
celulares como se estivessem na cozinha de suas casas. E de que me interessa saber que uma decepcionada Maricotinha não poderá participar do torneio de natação do colégio por estar menstruada?
Nos vôos internacionais, para
não ouvir a chacrinha dos celulares,
sempre haverá a opção dos head-phones em algum canal de música.
Mas, na Ponte Aérea, serei obrigado
a transgredir meus princípios e me
converter, quem diria, ao iPod.
Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: É o tchan Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: O Copom é autônomo Índice
|