São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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Desafio real e presente

Medidas do governo para conter valorização da moeda não surtem efeito esperado pela Fazenda; já se projeta dólar a R$ 1,50 neste ano

Um dos cacoetes das autoridades, mormente na gestão da economia, é nunca reconhecer uma imperícia, seja qual for a adversidade do momento. Pois é justamente isso que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não está conseguindo fazer em suas intervenções no mercado de câmbio. Muito anuncia e pouco resolve.
Uma nova rodada de medidas cambiais teve início com a aplicação de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) aos empréstimos externos de curto prazo. Apesar do anúncio, o real valorizou-se em 2,5%. Premido pelo mercado, o governo voltou à carga e estendeu o prazo dos empréstimos de um para dois anos. O dólar caiu mais, abaixo de R$ 1,60.
Dificuldades de comunicação à parte, é imperativo assinalar que a força do real decorre de fatores objetivos, fora do controle direto do governo. Houve forte aceleração da entrada de dólares no Brasil no primeiro trimestre. Foram US$ 35,6 bilhões, um novo recorde.
Além do maior volume, o perfil das entradas de dólares vem reduzindo a eficácia das medidas cambiais. As exportações de matérias-primas estão em alta, acompanhando o aumento dos preços agrícolas e do minério de ferro. Ao mesmo tempo, aceleram-se as entradas de investimentos diretos (US$ 54 bilhões nos últimos 12 meses). A "qualidade" das entradas de dólares tem melhorado, o que torna menos recomendável criar-lhes mais obstáculos.
O Brasil continuará a atrair dinheiro enquanto persistir a alta dos preços das matérias-primas. Some-se a isso a grande distância dos juros internos em relação aos praticados no exterior, o que atrai investidores interessados em embolsar a diferença, e o quadro de sobra de dólares se completa.
Apesar da deficiente retórica ministerial, investidores entendem que o espaço do governo para desvalorizar o real se encolhe dia a dia. De um lado, há inconveniente claro em taxar ou limitar investimentos diretos e na Bolsa, importantes fontes de financiamento. De outro, pressões inflacionárias mais e mais agudas dificultam medidas agressivas para conter a queda do dólar.
Ao contrário: fica cada vez mais claro que o BC precisará do real mais forte para baixar o preço das importações e, assim, tentar evitar que a inflação de 2011 supere o teto da meta (6,5%). Já são comuns projeções de câmbio de até R$ 1,50 para o fim deste ano.
A dicotomia que se observa só fará crescer no horizonte previsível: a indústria manufatureira perderá terreno para a concorrência externa e o investimento será concentrado nas cadeias de commodities. A desindustrialização é o problema dos próximos anos.


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