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Desafio real e presente
Medidas do governo para conter valorização da moeda não surtem efeito esperado pela Fazenda; já se projeta dólar a R$ 1,50 neste ano
Um dos cacoetes das autoridades, mormente na gestão da economia, é nunca reconhecer uma
imperícia, seja qual for a adversidade do momento. Pois é justamente isso que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não está
conseguindo fazer em suas intervenções no mercado de câmbio.
Muito anuncia e pouco resolve.
Uma nova rodada de medidas
cambiais teve início com a aplicação de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) aos empréstimos externos de curto prazo. Apesar do anúncio, o real valorizou-se em 2,5%. Premido pelo
mercado, o governo voltou à carga
e estendeu o prazo dos empréstimos de um para dois anos. O dólar
caiu mais, abaixo de R$ 1,60.
Dificuldades de comunicação à
parte, é imperativo assinalar que a
força do real decorre de fatores objetivos, fora do controle direto do
governo. Houve forte aceleração
da entrada de dólares no Brasil no
primeiro trimestre. Foram US$
35,6 bilhões, um novo recorde.
Além do maior volume, o perfil
das entradas de dólares vem reduzindo a eficácia das medidas cambiais. As exportações de matérias-primas estão em alta, acompanhando o aumento dos preços
agrícolas e do minério de ferro. Ao
mesmo tempo, aceleram-se as entradas de investimentos diretos
(US$ 54 bilhões nos últimos 12 meses). A "qualidade" das entradas
de dólares tem melhorado, o que
torna menos recomendável criar-lhes mais obstáculos.
O Brasil continuará a atrair dinheiro enquanto persistir a alta
dos preços das matérias-primas.
Some-se a isso a grande distância
dos juros internos em relação aos
praticados no exterior, o que atrai
investidores interessados em embolsar a diferença, e o quadro de
sobra de dólares se completa.
Apesar da deficiente retórica
ministerial, investidores entendem que o espaço do governo para
desvalorizar o real se encolhe dia
a dia. De um lado, há inconveniente claro em taxar ou limitar investimentos diretos e na Bolsa,
importantes fontes de financiamento. De outro, pressões inflacionárias mais e mais agudas dificultam medidas agressivas para
conter a queda do dólar.
Ao contrário: fica cada vez mais
claro que o BC precisará do real
mais forte para baixar o preço das
importações e, assim, tentar evitar
que a inflação de 2011 supere o teto da meta (6,5%). Já são comuns
projeções de câmbio de até R$ 1,50
para o fim deste ano.
A dicotomia que se observa só
fará crescer no horizonte previsível: a indústria manufatureira
perderá terreno para a concorrência externa e o investimento será
concentrado nas cadeias de commodities. A desindustrialização é
o problema dos próximos anos.
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