São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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FERNANDO RODRIGUES

Ideias na hora da dor

BRASÍLIA - Depois do assassinato de 12 jovens no Rio, alguém logo lembrou que na Câmara dos Deputados tramitam projetos de lei propondo mais segurança nas escolas. Um deles obriga a instalação de detectores de metal nas portarias pelas quais passam os estudantes.
No território livre da internet circularam análises sobre o suposto mal que o noticiário do massacre de Realengo provocará. O pensamento maniqueísta conclui que muitos desajustados vão agora se sentir incentivados a sair por aí atirando. Logo, o melhor seria restringir tal tipo de informação.
É natural o surgimento de ideias variadas em seguida a uma grande tragédia. Os ânimos ficam alterados. A dor dos pais, parentes e amigos das vítimas é comovente. A presidente Dilma Rousseff chorou em público. Há muita boa intenção nas declarações de todos.
Mas esses episódios colocam à prova os valores de um país e de seus cidadãos. Há similitude com o caso recente do deputado racista e homofóbico. O teor dos comentários estapafúrdios do congressista levou muita gente de bem a imaginar ser possível numa democracia haver "censura do bem" (sic).
Não é censurando deputados que o país se verá livre de racismo e homofobia. Tampouco será com detectores de metais obrigatórios ou proibindo, por meio de lei, o uso de armas que o Brasil ficará imune a ataques como o de Realengo nesta semana. Nada contra regras mais rígidas sobre o controle de armamentos. Essas normas, aliás, já existem e não são cumpridas.
Hélio Schwartsman explicou ontem na Folha como é difícil prever com ciência um comportamento violento. Adotar restrições e leis contra o livre trânsito de cidadãos parece, para muitos, a saída óbvia em momentos de consternação como o atual. Mas a prudência recomenda parcimônia com tais medidas. Ninguém desejará tornar o ar da incivilidade no Brasil ainda mais irrespirável do que já é hoje.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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