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São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

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O EURO FORTE

Foi muito preocupante a decisão do Banco Central Europeu de manter inalterada, em 2,5% ao ano, a sua taxa básica de juros. Com isso, continua a discrepância entre a taxa européia e a dos Estados Unidos -que na segunda-feira foi mantida em 1,25% ao ano. Esse diferencial tem estimulado uma saída de capitas dos EUA para a Europa. Não foi à toa que ontem a moeda européia atingiu seu maior valor em quatro anos sobre a americana -1 euro chegou a ser vendido a US$ 1,15.
O BCE tentou dourar a pílula de sua obsessão antiinflacionária anunciando que a meta a perseguir para a alta dos preços não será mais estritamente de 2% ao ano, mas "em torno" disso. A mudança, porém, é tímida demais para influir no quadro de depreciação global do dólar.
Remonta ao final de janeiro de 2002 o início do ciclo atual de perda de valor da moeda americana diante do euro. Tal tendência não foi contida com o êxito militar dos EUA no Iraque nem com a descompressão nos preços do petróleo. Nos últimos 12 meses, a depreciação do dólar sobre o euro foi de 27%.
Essa correlação dólar/euro é péssima para a economia dos dois blocos continentais. Nos Estados Unidos e na Alemanha, as autoridades econômicas fazem alertas para o perigo de deflação, que já ocorre há oito anos no Japão.
Há agentes atuando para evitar o pior. O governo japonês anunciou que, no primeiro trimestre deste ano, vendeu o equivalente a US$ 20 bilhões em ienes para tentar conter a valorização de sua moeda. A queda do dólar em 2002 só não foi maior porque um fluxo de reservas oficiais de quase US$ 100 bilhões (oriundo basicamente de bancos centrais de países asiáticos) compensou praticamente metade da queda registrada nos investimentos privados estrangeiros (diretos, em ações e em títulos de dívida) dirigidos aos EUA.
Mas essas ações ainda são insuficientes. Hesitações, como as manifestadas nesta semana pelo Fed e pelo BCE, podem custar caro. Podem trazer de volta um fantasma que, desde a crise de 1929, parecia exorcizado: o espectro da deflação global.


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