|
Próximo Texto | Índice
O EURO FORTE
Foi muito preocupante a decisão do Banco Central Europeu
de manter inalterada, em 2,5% ao
ano, a sua taxa básica de juros. Com
isso, continua a discrepância entre a
taxa européia e a dos Estados Unidos
-que na segunda-feira foi mantida
em 1,25% ao ano. Esse diferencial
tem estimulado uma saída de capitas
dos EUA para a Europa. Não foi à toa
que ontem a moeda européia atingiu
seu maior valor em quatro anos sobre a americana -1 euro chegou a
ser vendido a US$ 1,15.
O BCE tentou dourar a pílula de sua
obsessão antiinflacionária anunciando que a meta a perseguir para a
alta dos preços não será mais estritamente de 2% ao ano, mas "em torno" disso. A mudança, porém, é tímida demais para influir no quadro
de depreciação global do dólar.
Remonta ao final de janeiro de 2002
o início do ciclo atual de perda de valor da moeda americana diante do
euro. Tal tendência não foi contida
com o êxito militar dos EUA no Iraque nem com a descompressão nos
preços do petróleo. Nos últimos 12
meses, a depreciação do dólar sobre
o euro foi de 27%.
Essa correlação dólar/euro é péssima para a economia dos dois blocos
continentais. Nos Estados Unidos e
na Alemanha, as autoridades econômicas fazem alertas para o perigo de
deflação, que já ocorre há oito anos
no Japão.
Há agentes atuando para evitar o
pior. O governo japonês anunciou
que, no primeiro trimestre deste ano,
vendeu o equivalente a US$ 20 bilhões em ienes para tentar conter a
valorização de sua moeda. A queda
do dólar em 2002 só não foi maior
porque um fluxo de reservas oficiais
de quase US$ 100 bilhões (oriundo
basicamente de bancos centrais de
países asiáticos) compensou praticamente metade da queda registrada
nos investimentos privados estrangeiros (diretos, em ações e em títulos
de dívida) dirigidos aos EUA.
Mas essas ações ainda são insuficientes. Hesitações, como as manifestadas nesta semana pelo Fed e pelo BCE, podem custar caro. Podem
trazer de volta um fantasma que, desde a crise de 1929, parecia exorcizado: o espectro da deflação global.
Próximo Texto: Editoriais: PROPOSTA RECORRENTE Índice
|