|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Um mensalão para a Bolívia
RIO DE JANEIRO - Uma das manias que Lula cultiva com mais entusiasmo é a do auto-elogio. E, quando deixa de elogiar-se a si mesmo e passa a
elogiar as suas realizações, lembra os
governos militares, que eram pródigos em dividir a história do Brasil em
antes deles e depois deles.
Já lembrei a última prestação de
contas do presidente Figueiredo, em
que ele arrolou como obras suas até
mesmo o Pão de Açúcar e o Corcovado. Lula ainda chegará lá, mas, na
semana passada, chegou à Muralha
da China.
Explico: durante o governo Médici,
iniciaram uma estrada monumental,
a Transamazônica. A publicidade
oficial dizia que seria a maior obra
da Era Moderna, tal como a Muralha da China na Antiguidade. Pela
sua extensão e largura, a Transamazônica seria vista da Lua.
Semana passada, falando do gasoduto que seu governo está transando
com países vizinhos, Lula disse que
será uma obra igual a da Muralha da
China, certamente com a vantagem
de ser vista da Lua, embora, creia eu,
grande parte dela seja subterrânea.
Mas nunca se sabe.
O açodamento com que ele aceitou
a soberania da Bolívia em cima de
uma empresa brasileira foi também
exagerado. Evidente que não é caso
de o Brasil imitar países colonialistas
e invadir a Bolívia para garantir investimentos ameaçados pela febre
nacionalista de Morales. Mas rasgar
contratos internacionais, trair compromissos aceitos de parte a parte, dá
direito ao prejudicado pelo menos à
estranheza, à busca de uma negociação, e não ao comodismo de aceitar a
soberania alheia como referência
maior da questão. A Bolívia é pobre
(o Brasil também é pobre), merece ser
auxiliada, mas não à custa dos interesses de uma empresa de mercado,
como a Petrobras.
Lula deveria chamar Delúbio Soares e Dirceu para montarem um esquema igual ao do valerioduto para
ajudar os bolivianos.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Balança, mas não cai Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: Nosso dever para com a Bolívia Índice
|