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JOSÉ SARNEY
Tô "grade"
O CHAMADO grau de investimento alcançado pelo Brasil tem suscitado as opiniões
mais divergentes entre políticos e
técnicos. Uns dizem que é o céu,
outros, o caminho do inferno. A
notícia de que o Brasil passa a ser
um país seguro e confiável para
quem quiser investir é logo contraditada: isso vai nos tornar mais
perdulários. Um articulista de renome chegou a sintetizar: "passamos do risco de calote ao risco de
cassino".
Associei essas visões a uma história de um meu tio-avô, que era
muito pessimista e via em tudo o
lado ruim. Uma vez, um vizinho
seu ganhou na loteria e, com muita
alegria, foi contar-lhe a boa nova.
Eram 50 contos, uma fortuna naqueles bons tempos dos anos 30 do
século 20. Meu tio-avô contestou-o: "Você não tem motivo nenhum
de alegria. Meus pêsames. Foi uma
desgraça que caiu em suas costas".
E vai argumentação: "Agora você
pensa que é muito rico e vai gastar
mais do que o necessário; seus filhos não vão querer mais estudar
porque são filhinhos de papai rico;
seus parentes vão pedir-lhe dinheiro emprestado, e serão tantos que
você não vai poder atendê-los, e
eles brigarão, e esta briga vai estender-se a toda família, e em breve
você vai ser odiado por todos, considerado mau parente e avarento.
Enfim, uma desgraça". O vizinho
ouviu tudo isso, ficou tomado de
uma grande tristeza e saiu da casa
do meu tio-avô tristíssimo porque
tinha tirado na loteria.
Agora leio que o grau de investimento vai trazer uma enxurrada de
dólares, vai haver especulação, vamos ter muito dinheiro, o dólar vai
baixar, as exportações vão entrar
em crise e o Brasil -que está crescendo em meio a uma crise internacional- vai achar que é o tal e
que, para conjurar essas "desgraças", deve intervir no Banco Central, mudar a política de juros, as
regras do câmbio e controlar a entrada de capitais no país. O presidente Lula já disse que não. Está
eufórico e deve ficar mais ainda.
Invoca Napoleão quando perguntava a quem ia escolher para general se tinha sorte. Ele, por exemplo,
está mais do que convicto, constatado pelo fatos, que tem. O presidente da Câmara disse que ele
(presidente) nasceu com aquilo para a Lua; eu acho que foi para o Sol.
Só quem viveu, como eu, a pão e
água de investimentos e vinda de
dólares para cá, cercado pelo mundo financeiro, num tempo de vacas
magras, pode avaliar o quanto de
êxito representam estas conquistas para o Brasil. E não há como
creditá-las senão ao governo do
presidente Lula.
Dizia-me um amigo que o Brasil
é o país mais legalista do mundo.
Quando se quer saber se as coisas
estão bem, pergunta-se: "Tá legal?". Agora as coisas vão mudar. Se
alguém perguntar "tá legal?", a melhor resposta é "tô grade".
Há motivos.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna
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