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CESAR MAIA
Derivativos da política!
A CRISE FOI o foco dos discursos no Congresso do PPE
(partidos de centro/centro-direita), bloco majoritário no Parlamento Europeu, que conta com
vários primeiros-ministros (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Suécia etc.).
No encontro de abril, preparatório à eleição de 7 de junho, os mais
importantes líderes europeus repetiram a mesma tese: a crise econômica tem como preliminar uma
crise de valores. Esses valores éticos foram ignorados nesse mundo
de derivativos, especulações, abuso
de riscos, paraísos fiscais.
A sociedade é um sistema de vasos comunicantes. Não haverá um
mundo empresarial ético e um
mundo político aético, ou vice-versa. Não há abuso de restrições legais e de ética de mercado se não
houver cumplicidade entre empresários e políticos. Não há corrupto
sem corruptor. Não há achacador
sem a fragilidade do achacado. O
que se vê hoje já se sabia. Os especuladores ganhavam e autoridades
políticas se omitiam, com proveito
pessoal.
Cabe buscar os paralelos entre
um e outro mundos. Por exemplo,
no caso dos derivativos. Esses representam operações financeiras
cuja relação com os fatos reais
(empréstimos, emissão de capital,
produção) vai se tornando cada vez
mais tênue, até que, no cume da pirâmide, elas fiquem soltas, sem
lastro.
No mundo político, isso ocorre
de forma parecida, e não faltam fatos divulgados para comprovar.
A atividade política envolve as
ações de governo e das oposições, a
legislação, a mobilização de militantes e da opinião pública, a defesa pública de interesses, as articulações para a obtenção de massa
crítica de opinião ou de voto e as
eleições.
Para isso, os políticos contam
com a sustentação partidária, os
partidos, com o fundo partidário,
acesso a rádio e TV e doadores formais. Os parlamentares contam
com salários e gabinetes, incluindo
assessores e benefícios que garantam mobilidade e comunicação.
As distorções vêm do uso de derivativos políticos sobre elementos
de sustentação, autorizado em lei.
É longa a lista. Nomeações nas
máquinas de governo como uma
extensão de gabinetes, atos e votos
trocados por favores empresariais
e governamentais, uso dos direitos
de gabinete para ganhos pessoais
(fantasmas, parte dos salários de
assessores, venda de passagens,
verba de gabinete usada fora da atividade política, cartões de crédito
da mesma forma), sobras de campanha, doações cruzadas e por
aí vai. A crise de valores e os vasos
comunicantes garantem que parte
das elites, política e empresarial,
opere no mesmo mundo, descolando a atividade-fim, dos lastros legal
e moral.
Os derivativos políticos fazem
parte da mesma crise de valores.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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