São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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Fiasco em construção

Acumulam-se evidências preocupantes de que obras de infraestrutura para a Copa de 2014 vão atrasar e custar bem mais do que planejado

Começam a se avolumar indícios de que o atraso e a improvisação nas obras para a Copa de 2014 podem levar a descalabro similar ao dos Jogos Pan-Americanos de 2007, cujo custo final multiplicou por oito o primeiro valor orçado.
Quando o Brasil foi escolhido sede da Copa, quase quatro anos atrás, comprometeu-se a adaptar a infraestrutura em 12 cidades-sede, com ampliação de aeroportos, novas redes de transporte urbano e estádios à altura do megaevento.
O custo total foi calculado, em 2009, em R$ 23 bilhões. Não há estimativa oficial atualizada, mas sobram indicações de que esse valor será ultrapassado, e muito.
O preço já licitado da reforma de três estádios -Maracanã (Rio), Mineirão (Belo Horizonte) e Mané Garrincha (Brasília)- ficou, em média, 17% mais alto que a previsão inicial. No caso da arena carioca, já se projeta que chegará a R$ 1 bilhão, contra R$ 600 milhões estimados dois anos atrás.
A maioria das 12 cidades não iniciou obras viárias; Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e Cuiabá são exceções. Também estão atrasadas as ampliações de 13 aeroportos. Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao governo federal) apontou que nove deles não deverão estar prontos para a competição.
Quanto mais demoram as licitações, maior é a chance de aumento do custo e de queda na qualidade dos projetos. A pressa é amiga das empreiteiras; note-se que, com o aumento da inflação, elas já pressionam por reajustes.
Para agilizar os trabalhos, o governo quer incluir todas as obras da Copa na medida provisória nº 521, em tramitação no Congresso. A medida dribla a Lei de Licitações para permitir a contratação pelo sistema "turn key" (empreitada): construtoras apresentam preço para o valor total da obra, em vez de cifras para cada um dos itens do projeto, e se responsabilizam por eventuais imprevistos.
Esse sistema pode apressar a execução, mas tende a atrair menos concorrentes à licitação e, por isso, a encarecê-la. O empreiteiro ganha um incentivo para acelerar a obra, mas pode também tentar aumentar o ganho abatendo custos onde não deveria.
Soma-se a isso o fato de que, ao contrário do que apregoava o comitê organizador brasileiro, não haverá participação significativa da iniciativa privada nos investimentos. As obras municipais serão financiadas pelo BNDES e pela Caixa Econômica Federal. O restante ficará com o Tesouro.
Mesmo alertando para riscos, esta Folha assinalou que a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 poderiam impulsionar melhorias em áreas de infraestrutura. Pelo andar da cartolagem, talvez já seja hora de questionar se algum saldo positivo é de fato possível.


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