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FHC EM CÍRCULOS
O primeiro mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso girou
em torno da defesa da estabilidade de
preços. O governo jamais chegou a
oferecer ao país algo como um modelo de desenvolvimento. A prioridade da âncora cambial acabava por
servir de justificativa para tudo, até
para a falta de políticas.
Agora, o risco é novamente a política econômica girar em torno apenas
das questões relativas aos desequilíbrios financeiros mais urgentes, em
detrimento das questões relativas à
produção e ao emprego.
Faltava uma política industrial? A
âncora cambial seria o estímulo à geração de uma nova competitividade.
Os grupos econômicos nacionais
fragilizavam-se sob um regime de juros escorchantes? A mesma âncora
cambial daria aos investidores externos a confiança para investir cada vez
mais, provocando uma ampla reestruturação produtiva.
A infra-estrutura exibia sinais terminais de deterioração? A privatização garantiria a superação dos gargalos na energia, nas comunicações,
nos transportes ou no saneamento.
Foi-se a âncora cambial, os investimentos diretos de grupos estrangeiros não criaram uma base para o
crescimento sustentado e a privatização, por enquanto, tem gerado dificuldades por vezes tão importantes
quanto algumas de suas virtudes.
Foram três apostas: no câmbio, na
abertura e na privatização. Em graus
variados, estão todas condenadas ou
precisando de urgentes redefinições.
Sobre o câmbio já se falou muito,
mas o problema está longe de ter sido resolvido. Por enquanto, aliás, o
governo se limita a reforçar o caixa
em dólares, sacando mais recursos
no FMI e se endividando cada vez
mais no exterior. Há um alívio no
curto prazo. Mas faltam parâmetros
para a reconstrução da confiança na
política econômica no longo prazo.
A tese da reestruturação produtiva
liderada pelo investimento estrangeiro é duvidosa. É o próprio governo que agora se inquieta. Tenta moderar importações e estimular exportações de empresas multinacionais.
Em alguns setores, como o de autopeças, houve uma ampla desnacionalização e concentração setorial. Os
efeitos dessas mudanças sobre os
fluxos de divisas e sobre a distribuição de renda podem não ser tão virtuosos como pretendeu o governo.
Finalmente, a privatização gerou
um leque amplo de problemas que as
agências de regulação mal começam
a tratar. Em setores como energia
elétrica e transportes, aliás, nem sequer a regulação está organizada.
Diante dessas dificuldades, a disposição do governo federal para formular novas estratégias de política econômica parece reduzida.
O projeto econômico de FHC ameaça voltar à estaca zero, a defesa da
estabilidade de preços e câmbio. Tudo a golpes de juros elevadíssimos,
que caem em câmera lenta, agravando a crise social e prolongando a asfixia financeira da empresa nacional.
Sem formular um novo modelo de
desenvolvimento, o governo sobrevoa seus próprios erros, em círculos,
incapaz de traçar novos rumos. Talvez esteja à espera de que tudo afinal
se arranje, espontânea e naturalmente, novamente por obra e arte de um
instável ciclo de otimismo nos mercados financeiros globais.
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