São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Desenvolvimento e meio ambiente
MARINA SILVA
Os anos 90 podem ser vistos como um período de institucionalização da questão ambiental, potencializado pela Rio 92, a conferência da ONU, e pela criação de novos instrumentos legais, como a Lei do Crime Ambiental e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Quando assumimos o governo, havia um desafio historicamente indicado para a política ambiental. A sociedade, desde os anos 80, clamava por espaços de participação nas questões ambientais. Respondemos com o fortalecimento dos conselhos existentes e a realização da Conferência Nacional de Meio Ambiente. Aos avanços legais deveriam corresponder ações do Poder Executivo. Assim, o governo criou mais 826 mil hectares de unidades de conservação; um novo modelo de assentamento, os assentamentos florestais; o plano de combate ao desmatamento na Amazônia, envolvendo 13 ministérios e ações voltadas à agenda do desenvolvimento regional sustentável; o plano de revitalização do Rio São Francisco; o novo modelo de gestão do setor elétrico, que incorpora as questões ambientais desde o planejamento dos investimentos; o Plano Amazônia Sustentável; etc. Mas o maior desafio que se destaca no debate nacional é saber como a política ambiental colabora para a retomada do desenvolvimento. A resposta começou a ser desenhada na Agenda 21, que é um novo conceito de progresso, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Afinal, a degradação ambiental e social são faces da mesma moeda. Cabe ao nosso governo mostrar que o cuidado com o uso do ambiente e dos recursos naturais não é obstáculo, mas oportunidade para um desenvolvimento duradouro, sustentável. Em 40 anos, desde o desenvolvimentismo dos anos 60, passando pelo "milagre" e pela expansão da fronteira agrícola, não conseguimos superar a enorme desigualdade social nem assegurar qualidade de vida e uso inteligente dos recursos naturais, a não ser por projetos e ações localizados. Um exemplo emblemático para o desafio do desenvolvimento sustentável será o asfaltamento da BR-163. Essa "BR sustentável" será fruto de um processo político que envolve governos, setor privado e organizações sociais em torno de uma proposta de desenvolvimento sustentável para toda a região afetada pela obra. Tal processo incluirá a criação de unidades de conservação, regularização fundiária, suprimento de serviços básicos à população e promoção de políticas de fomento ao uso adequado dos recursos naturais, entre outras medidas. As obras de infra-estrutura não são, em si, causadoras de impactos ambientais e sociais expressivos. Mas induzem processos de desenvolvimento que podem aprofundar as desigualdades sociais e degradar o meio ambiente, comprometendo, inclusive, objetivos econômicos. Para enfrentar esse desafio será preciso mudar procedimentos. Não é por outra razão que a pressão de alguns segmentos ligados à infra-estrutura se concentra na área do licenciamento ambiental. É nesse ponto do processo que se promove a inflexão entre um modo de fazer do passado e aquele que incorpora critério e qualidade socioambientais. Não estamos partindo do zero. Encontramos um ambiente propício -técnicos, ambientalistas, lideranças políticas e comunidades preparados e dispostos a interagir com uma proposta firme rumo à sustentabilidade. Contamos com um arcabouço legal importante, uma vanguarda do empresariado empenhada, além de experiências de articulação e negociação prontas para ganhar escala. É por isso que o slogan desta Semana do Meio Ambiente não foi idéia de um especialista da área. Veio do amigo Ziraldo, que tem preocupações ambientais: "Meio ambiente e desenvolvimento: dá pra casar". Marina Silva, 46, historiadora, senadora pelo PT-AC, é a ministra do Meio Ambiente. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marco Antonio Villa: O futuro de uma biblioteca Índice |
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