São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Passeio no shopping

SÃO PAULO - Chego ao shopping Cidade Jardim por volta das 13h. É a minha primeira vez. Na véspera, o templo paulistano do luxo extremo havia sido assaltado pela segunda vez em pouco mais de 20 dias. Há 11 joalherias no local, num total de mais ou menos 80 lojas de grifes.
Por fora, o prédio de concreto de três andares lembra uma fortaleza. Entro. Há pouco movimento, uma música ambiente baixinha engana o silêncio. Ventiladores de pá espalhados pelo teto giram em câmera lenta. Observado por seguranças, vários e idênticos, tenho a sensação de estar no set de filmagem de um legítimo Quentin Tarantino.
Existe alguma tensão no ar, mas nada da balbúrdia típica dos shoppings mais frequentados, onde é fácil se perder ou sentir vertigem. As mercadorias ali parecem antes nos esnobar do que gritar nas vitrines.
Um blazer da Chanel custa R$ 10.800,00; na Ermenegildo Zegna, uma mala de viagem está saindo por R$ 8.130,00. A Giorgio Armani troca um cinto por R$ 2.500,00. Quase deixo escapar: É um assalto!
No corredor, alheia à violência do mundo, a loirinha vestida de preto me chama para perto do novo BMW em exposição: um "X1 com 190 cavalos", ela explica. Parece demais para a minha charrete. Mas digo apenas: "Os brancos não me agradam muito ". E ela, sorridente: "É, a mulherada gosta mais".
Vou almoçar no Nonno Ruggero. A hostess me conduz a uma mesinha redonda. Na parede ao lado, fitando-me com sua expressão desconsolada, a 20 centímetros do meu nariz, lá está ele: Don Corleone. Almoçamos, o Chefão e eu. O buffet, mais uma coca zero e um café, saiu a bagatela de R$ 80,23.
Provocado, um vendedor desabafa: o shopping tem mais seguranças que clientes. E comenta, discretamente, que está vendendo pouco. A loja da Livraria da Vila, no entanto, é coisa fina. E está colada a uma unidade da Casa do Saber, também agradabilíssima. Saí de lá pensando: por que não um curso sobre o que significa, afinal, isso aqui?


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