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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Passeio no shopping
SÃO PAULO - Chego ao shopping
Cidade Jardim por volta das 13h. É a
minha primeira vez. Na véspera, o
templo paulistano do luxo extremo
havia sido assaltado pela segunda
vez em pouco mais de 20 dias. Há 11
joalherias no local, num total de
mais ou menos 80 lojas de grifes.
Por fora, o prédio de concreto de
três andares lembra uma fortaleza.
Entro. Há pouco movimento, uma
música ambiente baixinha engana
o silêncio. Ventiladores de pá espalhados pelo teto giram em câmera
lenta. Observado por seguranças,
vários e idênticos, tenho a sensação
de estar no set de filmagem de um
legítimo Quentin Tarantino.
Existe alguma tensão no ar, mas
nada da balbúrdia típica dos shoppings mais frequentados, onde é fácil se perder ou sentir vertigem. As
mercadorias ali parecem antes nos
esnobar do que gritar nas vitrines.
Um blazer da Chanel custa R$
10.800,00; na Ermenegildo Zegna,
uma mala de viagem está saindo
por R$ 8.130,00. A Giorgio Armani
troca um cinto por R$ 2.500,00.
Quase deixo escapar: É um assalto!
No corredor, alheia à violência
do mundo, a loirinha vestida de
preto me chama para perto do novo
BMW em exposição: um "X1 com
190 cavalos", ela explica. Parece
demais para a minha charrete. Mas
digo apenas: "Os brancos não me
agradam muito ". E ela, sorridente:
"É, a mulherada gosta mais".
Vou almoçar no Nonno Ruggero.
A hostess me conduz a uma mesinha redonda. Na parede ao lado, fitando-me com sua expressão desconsolada, a 20 centímetros do
meu nariz, lá está ele: Don Corleone. Almoçamos, o Chefão e eu. O
buffet, mais uma coca zero e um café, saiu a bagatela de R$ 80,23.
Provocado, um vendedor desabafa: o shopping tem mais seguranças que clientes. E comenta, discretamente, que está vendendo pouco.
A loja da Livraria da Vila, no entanto, é coisa fina. E está colada a uma
unidade da Casa do Saber, também
agradabilíssima. Saí de lá pensando: por que não um curso sobre o
que significa, afinal, isso aqui?
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