São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Indecências, públicas e privadas

SÃO PAULO - Indecência 1: é a do setor privado, das empresas que contrataram Antonio Palocci e mantiveram ensurdecedor silêncio durante a agonia do agora ex-ministro, mas sempre consultor.
Nenhuma delas teve a decência de vir a público para dizer algo como: sim, contratamos Palocci porque é um especialista de grande capacidade que nos ajudou muito em nossos negócios. Nenhuma.
Tampouco as entidades empresariais que enchem a boca para falar de "responsabilidade social" moveram os lábios. Só pode dar margem à suspeição de que a contratação de Palocci não se deu pela qualificação dele, mas pelos contatos que tinha -e tem- no poder.
Agora, mais que nunca, portanto, é indispensável conhecer a lista de contratantes de Palocci e, principalmente, dos negócios que fizeram, se fizeram, com o governo federal. Ah, também se contribuíram financeiramente para a campanha de Dilma Rousseff da qual o consultor era o coordenador.
Indecência 2 - A da presidente Dilma Rousseff. Líder que é líder só tem uma de duas atitudes a tomar numa situação do gênero: ou defende ferozmente o auxiliar posto na berlinda, se acredita nele, ou o afasta, ao menos provisoriamente, até que tudo se esclareça.
Dilma não fez nem uma coisa nem a outra. Deixou que o cadáver insepulto de Palocci desfilasse em praça pública até cravar-lhe a estaca de madeira no peito.
Indecência 3 - A do PT, cuja atitude foi ainda pior do que a de Dilma, salvo pouquíssimas exceções. Além de nem defender o acusado nem pedir a sua cabeça ainda brincou de corte borgiana, com punhais brilhando no escuro.
Apesar de serem indecências visíveis a olho nu, aposto que tudo estará rapidamente esquecido. Afinal, estamos no Brasil. Nem a oposição quer, de fato, a lista das contratantes do ex-ministro. Como diz aquela propaganda de seguro: vai que.


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