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Editoriais
Ocultismo palaciano
Governo Lula parece crer que omitir projeções de desmate e inflação tem o poder de tornar esses dados mais positivos
ONZE MESES atrás, a ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff,
comandou uma grande festa na Esplanada para anunciar que o desmatamento na
Amazônia caíra 30%. Era só uma
projeção, baseada em informações do sistema Deter de monitoramento operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O mesmo sistema
que, agora, aponta retomada da
destruição da floresta, mas cujas
cifras permanecem trancadas
nas gavetas da Casa Civil.
A justificativa para a ocultação
é aguardar que as taxas de desmate sejam apresentadas ao presidente Lula. Não foi marcada
data para tanto. O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, nega pressão do governo para censurar informações, mas considera necessário "explicar direitinho as características do desmatamento e
evitar conclusões precipitadas".
Não há novidade no caráter
provisório e menos confiável das
cifras do Deter, se comparadas
com as de outro serviço do Inpe
(Prodes, mais preciso, porém
mais demorado). Isso nunca foi
impedimento para o governo
alardear notícias boas. Não deveria, portanto, servir para justificar a omissão da notícia ruim.
A mudança de atitude do Planalto tem nome: manipulação da
informação. Os dados não precisam ser adulterados para deixar
de cumprir seu papel de informar. Números sobre rumos do
país e resultados das políticas
públicas têm de ser publicados
assim que obtidos, não quando
for da conveniência do governante. A máxima de "faturar o
que é bom e esconder o que é
ruim" tem longa tradição -no
Brasil e em outros países-, que
precisa ser erradicada.
A taxa de desmate engavetada
preocupa ainda mais por sugerir
um padrão petista de gestão da
informação. Repete acontecimentos recentes noutro centro
de investigação federal, o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea).
Após trocar a coordenação de
seu grupo de Conjuntura, a nova
direção do órgão, sob comando
do economista Marcio Pochmann, deixa de publicar trimestralmente em seu boletim "Carta
de Conjuntura" previsões de variáveis macroeconômicas, como
taxas de inflação. Ao estilo da sumida destruição amazônica, a
justificativa oficial é em aparência benigna, "aperfeiçoar métodos e aprofundar análises para
melhor elaborar projetos de desenvolvimento para o Brasil".
Mostra-se no mínimo inoportuno promover tal mudança no
momento em que se aceleram as
taxas de inflação. Sobretudo, se a
real motivação para omitir projeções -que seguirão sendo feitas- for o temor de realimentar
expectativas inflacionárias. Desmatamento e alta de preços são
produtos da dinâmica da economia, não das mensurações para
conhecê-los melhor. São informação de interesse e propriedade públicas, e não exclusividade
de prestidigitadores palacianos.
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