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CARLOS HEITOR CONY
Eu, pecador, me confesso
RIO DE JANEIRO - Antes, no
melhor das festas, se alguém duvidasse, a imprensa já era tida como
quarto poder, uma instituição que
exercia um poder paralelo. Na
verdade, não é um poder, mas uma
força. Com as novas técnicas de
comunicação e com a sacralidade
das fontes, ela se transformou no
escoadouro dos descontentamentos (lícitos ou não), dos ressentimentos (pessoais ou grupais), das
pressões e compressões de uma
sociedade heterogênea que inclui
desde índios e menores inimputáveis até políticos e empresários que
podem roubar.
Esse caldo em ebulição seria a
matéria que justificaria a existência
e a expressão do Estado que, no caso brasileiro, antecedeu a Nação.
Abriu-se um vácuo e, nele, a força
da comunicação encontrou o seu
espaço. E o fez com exuberante boa
vontade. Não é a vida nacional que
pauta a imprensa. É a imprensa que
pauta a vida nacional, através de
seus órgãos mais excitáveis.
Dá a régua e o compasso. A classe
política empacou, ataca e se defende a esmo, desarticuladamente, de
acordo com a direção e a intensidade dos petardos que recebe.
Mas quem acusa a imprensa?
Quem se atreve a mostrar e demonstrar que o gigante também
tem, como todos os gigantes, os
seus pés de barro? Há desconforto
em todas as classes, juízes, militares, empresários e policiais em relação aos jornalistas. Eles se transformaram em detetives, em esmiuçadores de contas de luz e telefone,
de depósitos bancários, declarações
de Imposto de Renda, despesas
nos postos de gasolina e nas agências dos Correios.
Estenderam sobre a sociedade
uma teia assombrosa que absorve
denúncias vindas de fontes anônimas, lembrando os comitês de salvação pública da Revolução Francesa que alimentaram de sangue a
guilhotina nos anos do terror.
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