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Sem perspectiva
Encontro entre Obama e Netanyahu não deve alterar estratégia de Israel, que não vê interlocutor confiável e prefere administrar a crise
A reunião de cúpula entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e
o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, foi o que os norte-americanos chamam de "photo op"
("photo opportunity"), ou seja,
uma ocasião para políticos aparecerem diante das câmeras sob luz
favorável. Tanto os EUA como Israel têm interesse em apagar a
imagem de fricção entre os dois
Estados, que, apesar das crescentes diferenças, seguem parceiros
numa aliança estratégica.
De mais a mais, o encontro também representa uma boa chance
para Obama, que enfrenta delicadas eleições legislativas neste
ano, faturar alguns pontos no influente eleitorado judeu.
Já para Netanyahu, que governa com um gabinete dividido,
sempre à beira da cisão, é importante mostrar que continua a contar com o apoio de Washington.
O fato, contudo, é que a aliança
EUA-Israel, apesar de ainda sólida, já deixou de ser inquestionável. Os americanos começam, ainda que timidamente, a se perguntar se vale a pena proteger o Estado judeu de forma quase incondicional. A proximidade tem um
custo para Washington. Suas políticas para o Oriente Médio são recebidas com desconfiança pelos
países islâmicos, tanto os aliados
quanto os inimigos.
Desde 2000, com o colapso das
conversações de paz em Camp David, a situação vem se deteriorando lenta, mas resolutamente. A sociedade israelense decidiu que
não há, do lado palestino, interlocutores confiáveis e desistiu de
engajar-se seriamente em esforços de entendimento.
Vez por outra, quando pressionado por Washington, o premiê
de plantão fala, como agora, em
retomar as negociações, mas apenas para voltar a congelá-las na
primeira oportunidade.
Numa única ocasião, sob o governo de Ariel Sharon, a maioria
dos israelenses acreditou que a retirada unilateral de Gaza poderia
ser o começo de uma solução. Hoje, porém, a iniciativa é vista como
um desastre. A saída dos soldados
permitiu ao grupo extremista Hamas assumir o território, do qual
lança saraivadas de foguetes contra cidades israelenses.
Israel hoje deixa o tempo passar. Administra a crise. Parece crer
que, um dia, o inimigo irá cansar-se e negociar. Do lado palestino,
as perspectivas são sombrias. O
tão prometido Estado jamais chegou. O que veio foi uma espécie de
guerra civil de baixa intensidade
entre o Hamas e o Fatah (o partido
laico fundado por Iasser Arafat),
que acabou expulso de Gaza.
A estratégia do Hamas nesse
meio tempo tem sido a de utilizar a
mais efetiva das armas à sua disposição, a propaganda. Os mais
de 40 anos de ocupação pesam
contra Israel. Respondendo às
provocações, tanto as reais como
as imaginadas, os israelenses, de
tempos em tempos, acabam cometendo um erro grave que resulta em muitas mortes de civis. O lamentável caso da flotilha turca foi
o exemplo mais recente.
É difícil dizer quem perde mais
com a situação. É fato que Israel
está levando a pior na guerra da
mídia. Mas, nesse meio tempo, os
palestinos estão deixando de ter a
oportunidade de converter-se
num país de verdade, com direito
a paz e desenvolvimento.
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