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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Educar para a solidariedade
Tendências marcantes caracterizam nosso tempo. Como nos situarmos diante dessa realidade? Deixar acontecer o entrechoque de valores e contravalores ou buscar metas
condizentes com a dignidade da pessoa e com a convivência solidária?
Eis a missão dos educadores: constatar a situação, discernir metas e contribuir para a busca da verdade, para o
reto uso da liberdade e para a criação
de condições dignas de vida para a humanidade. Não podemos perder o horizonte de transcendência, isto é, a certeza de alcançarmos a tão almejada felicidade para além da vida terrena. Na
perspectiva da revelação de Jesus Cristo, somos chamados à remissão dos
pecados, à conversão e à promessa de
comunhão entre nós e com a vida trinitária. Para todos, no entanto, permanece o desafio da vida terrena, que
deveria preparar-nos para o encontro
feliz e definitivo na Casa do Pai, superando faltas, divisões e discriminações.
É necessário, portanto, encontrar
caminhos de convivência solidária.
Entre as características do início do
século, nós nos deparamos com o
crescimento enorme da população
terrestre (6 bilhões de habitantes), que
está em constante mobilidade. Isso
acarreta o entrelaçamento das culturas e traz como consequência a necessidade de aprendermos a conviver no
pluralismo, respeitando a lentidão
com a qual muitos se aproximam da
verdade.
Do ponto de vista social e econômico, é notadamente injusta a distribuição de recursos e de riquezas, o que
causa crescente exclusão social, fruto
da globalização inadequada. O vício
não está no incentivo à produção, mas
na injustiça da distribuição. Temos,
assim, de nos educar para a partilha
fraterna e encontrar processos rápidos e pacíficos para assegurar a todos
o indispensável à vida digna e ao desenvolvimento sustentável.
Que dizer dos conflitos, das guerras
e dos assaltos? A única resposta coerente contra a violência, hoje tão difusa, é a abertura ao perdão, que exige
uma profunda mudança de mentalidade e o auxílio divino. A prática da
moral deixa muito a desejar. Os princípios universais são relativizados. Há
quem aceite o aborto, a eutanásia e a
manipulação da vida humana sem nenhum critério. O tráfico e o uso da
droga prejudicam sempre mais a juventude. A família tem sido muito
atingida pelos meios de comunicação
social e pela permissividade moral,
com terríveis consequências para os
filhos -que perdem a estabilidade do
lar e, em muitos casos, vivem abandonados.
Quanto à política, temos de aperfeiçoar a democracia, vencendo a atração pelo poder e a conivência com a
corrupção. Na política internacional,
os governos mais ricos dominam pela
força do dinheiro e das armas.
Na perspectiva religiosa, o caminho
consiste em nos abrirmos ao diálogo
inter-religioso, evitando o sincretismo
e apresentando os próprios valores
com convicção e transparência. Percebemos, assim, que, além das iniciativas válidas e urgentes para assegurar
trabalho e alimento à população, se
torna indispensável um empenho coletivo para reeducar a pessoa e a sociedade, de modo a não repetirmos os erros dos atuais sistemas, que geraram
séculos de acumulação doentia de
bens e a busca desenfreada pelo prazer
e pelo poder.
Como ajudar as novas gerações a discernir o que é certo e promover as
bases de uma sociedade solidária? A verdade e o bem têm seu próprio fascínio, que há de superar os pseudovalores e atrair a humanidade para realizar o projeto divino da reconciliação e
da concórdia.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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