São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

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AVANÇOS E LIMITES

Os últimos dias foram pródigos em notícias favoráveis relativas ao desempenho e às perspectivas de curto e médio prazo do comércio exterior do Brasil. O saldo positivo entre exportações e importações continuou a quebrar recordes e a diplomacia comercial brasileira obteve vitórias expressivas em fóruns internacionais.
É significativo que os sucessivos bons resultados atingidos pelo superávit comercial ocorram num contexto em que a demanda interna se recupera. Essa reativação do mercado interno tem se refletido numa aceleração muito forte das importações, sem comprometer, entretanto, o saldo comercial ao longo do ano.
Embora seja verdadeiro que o dinamismo das exportações brasileiras se beneficia de uma marcante reaceleração do comércio internacional, sua taxa de crescimento mantém-se claramente superior à média mundial, indicando que o país amplia sua presença nesse mercado.
Pelo lado das negociações comerciais, a vitória mais festejada foi o acordo firmado na Organização Mundial do Comércio (OMC), que restringe a concessão de subsídios a exportações agrícolas, prática adotada com freqüência pelos países europeus, bem como para outros estímulos às exportações (como os creditícios), em especial os utilizados pelos norte-americanos. Essa foi uma vitória do conjunto dos países menos desenvolvidos. Além dela, o Brasil em particular obteve na semana passada relatório favorável da OMC em disputa contra subsídios às exportações européias de açúcar, depois de já haver conquistado, no final de junho, parecer positivo em processo contra subsídios dos EUA ao algodão.
Em conjunto, esses desdobramentos das negociações comerciais reforçam as condições para uma continuidade da tendência de alta das exportações agrícolas brasileiras. Tal perspectiva contribuiria, por sua vez, para renovar o fôlego do saldo comercial, cuja sustentação, não é demasiado salientar, é essencial para dar prosseguimento ao processo de elevação das reservas de divisas do Banco Central e, em termos mais gerais, de redução da vulnerabilidade das contas externas.
O avanço das exportações de base primária (agrícolas e minerais) é muito bem-vindo e deve ser preservado. Não deve, porém, turvar a percepção de que, para se habilitar a encetar uma trajetória de longo prazo de crescimento expressivo, com redução das desigualdades e aumento do emprego, o Brasil tem muito a avançar em direção a uma inserção mais promissora na divisão internacional do trabalho.
Poucos números bastam para demonstrar quão diferenciado é, a longo prazo, o dinamismo dos mercados internacionais para bens primários e para bens de maior conteúdo tecnológico. De acordo com dados compilados pela OMC, entre 1980 e 2003 o peso das exportações de bens agrícolas e minerais no total do comércio mundial reduziu-se de 42% para 21%. No mesmo intervalo de tempo, as exportações de equipamentos de telecomunicação e de escritório tiveram sua participação nas transações internacionais ampliada de 4% para 13%.
Isso significa que um país precisa ser capaz de exportar também produtos com maior valor adicionado para sustentar sua ascensão no contexto global, o que demanda do governo brasileiro um esforço deliberado de política industrial.


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