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ELIANE CANTANHÊDE
"Calma, calma"
BRASÍLIA - A queda do TAM 3054
mexeu com as feridas dos parentes
das vítimas do Gol 1907 e do esquecido Team 6865, um bimotor turbo
que caiu em Rio Bonito (RJ) em 31
de março do ano passado, matando
todos seus 19 ocupantes.
Ontem, a gaúcha Rosane, mãe de
uma menininha que completa 5
anos no dia 15 e viúva de Rolf Gutjahr, morto no vôo da Gol, me mandou um e-mail sofrido que insiste
numa pergunta recorrente: o que
há sobre a caixa-preta do Boeing?
Até onde eu saiba, as gravações
contribuem muito pouco para as
investigações, porque o Gol entra
na história na única condição de vítima, com 154 pessoas a bordo. O
mais marcante é que foi tudo rapidíssimo, questão de segundos. Não
houve tempo para gritos nem desespero. Na cabine, mal se ouvem
duas palavras: "Calma, calma". A
voz foi provavelmente do piloto Décio Chávez Jr., enquanto agarrava o
manche com força.
A partir do choque com o Legacy,
a fita só registra essa fala, apitos estridentes, ruídos de equipamentos
e o barulho do vento com o avião
caindo vertiginosamente em espiral: "vrum, vrum, vrum". Muito pesado, com 154 pessoas e no mínimo
30 toneladas de combustível, além
da fuselagem, tudo indica que o
Boeing atingiu a velocidade supersônica e se desintegrou no ar.
Isso explica por que não houve
explosão nem fogo com o choque
no solo: o querosene já teria escapado em pleno ar. Explica também
por que os destroços se espalharam
por um raio tão grande: o avião foi
soltando pedaços já em pleno ar.
Tudo deverá ser confirmado no
mês que vem com as conclusões finais sobre o acidente com o Boeing
da Gol, que caiu em 29 de setembro
do ano passado. E o bimotor da
Team, que caiu seis meses antes?
Até agora, não há um pio sobre causas nem um tostão de indenização.
Tudo o que as 19 famílias mereceram foi isso: silêncio e dor.
elianec@uol.com.br
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