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Defesa nacional
Cada vez mais relevante no cenário internacional, o Brasil precisa melhorar
de forma realista a sua capacidade de defesa
AS MOVIMENTAÇÕES do
governo federal para a
compra de equipamentos militares trazem
uma questão subjacente, à qual é
preciso responder de maneira
clara: o Brasil deve reforçar sua
capacidade de defesa? A resposta
inequívoca é sim. O país, que ganha projeção e candidata-se a assumir mais responsabilidades,
precisa reunir condições de enfrentar os desafios inerentes a
este papel, num século que já
nasceu sob o signo de novos conflitos e riscos geopolíticos.
A palavra-chave a nortear as
ações nesse setor é dissuasão. No
mundo pós-Guerra Fria, sem superpotências a servir de guarda-chuvas, um país
com as dimensões e o potencial econômico
do Brasil deve
deixar claro que
tem capacidade
de se defender
de determinados tipos de
ameaça.
É preciso, de
forma planejada
e serena, dotar
as Forças Armadas de recursos
para o exercício
de sua missão
constitucional.
Um país que
possui 64% da
Amazônia, extensa faixa marítima e uma área
equivalente à da
Europa ocidental não pode
prescindir de
meios de proteção costeira, de
rotas comerciais, fronteiras
e campos petrolíferos -agora mais valiosos com
as reservas do pré-sal.
Não se trata de postular uma
política de defesa extensiva, pesada e custosa, mas de fornecer
às Forças Armadas acesso a equipamentos modernos, de modo
que possam treinar efetivos e
multiplicar sua capacidade de
atuar com eficiência e agilidade
quando requisitadas.
Não é tarefa fácil estimar os
gastos militares mundiais. A interpretação dos diferentes orçamentos de cada país faz com que
os números variem muito, mesmo entre os institutos mais respeitados que trabalham com o
tema, como o sueco Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa
da Paz de Estocolmo) e o britânico IISS (Instituto Internacional
de Estudos Estratégicos). Há
países, como a China e a Rússia,
em que a falta de transparência
torna difícil um cálculo preciso.
O Brasil tem gastos militares à
altura de sua participação na
economia mundial. Segundo o
anuário do instituto sueco, ocupamos o 12º lugar, pouco atrás da
Coreia do Sul e não muito à frente de países como Canadá, Espanha e Austrália.
O problema é que o país gasta
mal. Os aviadores, soldados e
marinheiros coreanos, canadenses, espanhóis e australianos
contam com equipamento em
geral bem mais modernos do que
seus colegas brasileiros. A título
de exemplo, esses países possuem caças superiores aos da
FAB, que desde o governo anterior tenta adquirir novas aeronaves de combate. E os aviões de
caça são a "ponta de lança" de
qualquer aviação militar.
Da mesma forma, parece claro
que a Marinha brasileira carece
de uma verdadeira frota de submarinos e que o Exército precisa
renovar seus veículos blindados.
Os outros países do chamado
grupo Bric
-Rússia, Índia
e China, além
do Brasil-, têm
todos recursos
mais poderosos. A Rússia
passou anos sucateada após o
final da União
Soviética, mas
recupera forças.
A China tornou-se a segunda potência militar do planeta.
A Índia, receosa
do vizinho Paquistão, deverá
produzir seu
próprio submarino a propulsão nuclear antes que o brasileiro saia da
prancheta.
O Brasil, felizmente, inscreve-se numa situação regional
bem mais tranquila do que a
enfrentada pelas nações acima citadas -todas
elas, aliás, detentoras de armas
nucleares. As relações brasileiras
com seus vizinhos podem passar
por eventuais divergências, mas
têm sido harmoniosas há pelo
menos cem anos.
Reconhecer a necessidade de
reforçar o poder defensivo do
país não significa um convite a
aventuras. O Brasil não precisa e
não deve estimular corridas armamentistas regionais ou despertar inquietações quanto ao
uso de sua energia nuclear.
O Estado brasileiro já tem uma
sólida, louvável e reconhecida
tradição diplomática voltada para o entendimento e a solução
pacífica de conflitos. É justamente para preservar este patrimônio que a defesa nacional,
submetida aos devidos controles
políticos e constitucionais, adquire papel mais relevante.
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