|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Pena ou desprezo?
SÃO PAULO - Chego a sentir certa
pena do senador Aloizio Mercadante, o líder do PT no Senado, quando
ele diz que o motivo que o levou a
fugir do plenário na quinta-feira é
este: "Não queria ver minha foto
naquela moldura".
Pena, senador, que sua foto já esteja naquela moldura desde que
aceitou silenciosa, mas gostosamente, a aliança de seu partido com
algumas das figuras mais deploráveis da política brasileira.
Ou Mercadante não participou
ativamente da campanha eleitoral
de Luiz Inácio Lula da Silva em
1989, ano em que Renan Calheiros e
Fernando Collor de Mello estavam
lado a lado, praticando as infâmias
arquiconhecidas?
Não creio que o senador petista
tenha uma formação tão religiosa
que lhe permita acreditar no arrependimento dos pecadores. Portanto, só aceitou conviver e ser
"companheiro" de Collor e Renan
(para não citar uma bela quantidade de outros não menos deploráveis) em nome de agarrar-se ao poder a qualquer custo, mesmo que
seja um custo deplorável.
Mercadante foi, durante as campanhas presidenciais do PT, a melhor fonte sobre assuntos econômicos. E melhor aí é, sim, juízo de valor, embora muita gente, inclusive
no próprio partido, faça severas restrições aos conhecimentos do hoje
senador.
Muito bem. Após a posse, Mercadante foi escanteado. Um dia, em
almoço no Itamaraty para o então
primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi, sentamos à mesma
mesa e ele me disse que se sentia
"emparedado", porque tinha críticas, mas a lealdade ao chefe o impedia de fazê-las.
Calou-se tanto, renunciou tanto a
pensar com a própria cabeça que
termina obrigado a homiziar-se em
seu gabinete para não aparecer na
foto ao lado do "companheiro" Renan, sob a presidência do "companheiro" Sarney. Merece piedade ou
desprezo?
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Defesa nacional Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Quando janeiro chegar Índice
|