São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

Carta anônima

RIO DE JANEIRO - Leio nos colunistas especializados: a turma que deseja salvar Renan Calheiros da cassação encontrou o argumento irrefutável para convencer os senadores que ainda estão vacilantes para a votação da próxima quarta-feira, apesar do voto secreto que limparia a barra para a manifestação livre da consciência de todos.
O argumento é decisivo: Renan é um dos "nossos", um dos esteios da base de apoio do governo. E governo é governo, com mais de três anos ainda no poder. A questão que será posta em votação é também simples: ele cometeu falta grave que está a exigir a cassação de seu mandato parlamentar?
Duas comissões do Senado já chegaram a uma conclusão. Tanto do ponto de vista da ética como da justiça, a documentação é suficiente para a cassação. Foram decisões tomadas por votação aberta, cada senador assumindo a responsabilidade de seu voto diante de seus pares e da nação. No plenário será diferente. O voto secreto é uma espécie de carta anônima na qual se pode escrever qualquer infâmia.
Numa hora dessas, Lula se fantasia de formalista, dizendo que é a favor do voto aberto, mas respeitando o regimento do Senado, que prevê a votação secreta, mas não a obriga. Com variantes de gênero e também de grau, a tática presidencial é a mesma que foi adotada para o caso do mensalão.
Poupando Renan, ele sinaliza o desejo do governo -e seu próprio desejo- de mantê-lo na presidência do Senado, afinal, "Renan é um dos nossos". As provas contra ele são mais ou menos semelhantes as que cassaram José Dirceu, segundo homem na hierarquia do poder petista. Dirceu também era um dos "nossos". A campanha pela sua reabilitação ficará a cargo do tempo. O presidente se limitará a respeitar as regras do "jogo".


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