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CARLOS HEITOR CONY
Carta anônima
RIO DE JANEIRO - Leio nos colunistas especializados: a turma que
deseja salvar Renan Calheiros da
cassação encontrou o argumento
irrefutável para convencer os senadores que ainda estão vacilantes para a votação da próxima quarta-feira, apesar do voto secreto que limparia a barra para a manifestação livre da consciência de todos.
O argumento é decisivo: Renan é
um dos "nossos", um dos esteios da
base de apoio do governo. E governo é governo, com mais de três anos
ainda no poder. A questão que será
posta em votação é também simples: ele cometeu falta grave que está a exigir a cassação de seu mandato parlamentar?
Duas comissões do Senado já
chegaram a uma conclusão. Tanto
do ponto de vista da ética como da
justiça, a documentação é suficiente para a cassação. Foram decisões
tomadas por votação aberta, cada
senador assumindo a responsabilidade de seu voto diante de seus pares e da nação. No plenário será diferente. O voto secreto é uma espécie de carta anônima na qual se pode escrever qualquer infâmia.
Numa hora dessas, Lula se fantasia de formalista, dizendo que é a favor do voto aberto, mas respeitando
o regimento do Senado, que prevê a
votação secreta, mas não a obriga.
Com variantes de gênero e também
de grau, a tática presidencial é a
mesma que foi adotada para o caso
do mensalão.
Poupando Renan, ele sinaliza o
desejo do governo -e seu próprio
desejo- de mantê-lo na presidência do Senado, afinal, "Renan é um
dos nossos". As provas contra ele
são mais ou menos semelhantes as
que cassaram José Dirceu, segundo
homem na hierarquia do poder petista. Dirceu também era um dos
"nossos". A campanha pela sua reabilitação ficará a cargo do tempo. O
presidente se limitará a respeitar as
regras do "jogo".
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