São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

A convicção do BC

A ata da última reunião sobre juros mostra um Banco Central convicto dos pressupostos que o fizeram, inesperadamente, cortar meio ponto percentual da taxa Selic, reduzindo-a para 12% ao ano.
O argumento central do BC repousa na perspectiva de que a piora na economia mundial vai prolongar-se. A hipótese se torna mais provável na medida em que a política econômica dos países ricos está de mãos amarradas para reagir à queda na atividade. Não pode mais baixar juros, pois já se avizinham de zero. Tampouco os governos, superendividados, são capazes de ampliar os gastos.
Desta vez, porém, as repercussões para o Brasil, estima o Banco Central, seriam 75% menores que na eclosão da crise de 2008. Para os diretores do BC, a queda da produção industrial doméstica, a desaceleração do crédito e uma certa moderação da demanda interna já seriam sintomas disso.
Além disso, ao confiar na obtenção da meta de 3% do PIB para a poupança do governo (o superavit fiscal) em 2012 e 2013 e no freio dos empréstimos do BNDES, o BC enxerga na política de crédito e gasto públicos um estímulo decrescente para a atividade econômica.
Por essas razões, o balanço de riscos para a inflação seria mais favorável nos próximos meses, justificando cortes "moderados" nos juros. O BC, a contrapelo de muitos analistas, continua convencido de que a inflação em 2012 rumará para a meta de 4,5%.
O Banco Central decidiu lançar mão de algum grau de experimentalismo, o que não é ruim. Na tentativa de romper com a amarra dos juros altos, tomou a decisão de correr riscos num ambiente ainda eivado de incertezas. Há também otimismo antecipado sobre a disposição do governo de realizar contenção de gastos duradoura.
É verdade que em 2011 o superavit primário ficará em 3,1% do PIB, muito acima do que se julgava possível no início do ano. Mas tal desempenho decorre de controle na boca do caixa, que prejudica em particular o investimento publico, e do brutal aumento de receitas que não se repetirá.
Para que o BC possa testar com risco calculado níveis muito mais baixos de juros -os quais o país há anos anseia-, é preciso que o governo retome uma agenda legislativa de controle sistemático do tamanho do Estado.
Um limite legal para a alta nos gastos de manutenção da máquina pública tem sido citado, a propósito. Sem avanço nessa direção, o louvável esforço do BC de enterrar a era do juro exorbitante será bombardeado por "fogo amigo".


Texto Anterior: Editoriais: Aumento inoportuno
Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Quem grita "pega ladrão"?
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.