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Editoriais
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A convicção do BC
A ata da última reunião sobre
juros mostra um Banco Central
convicto dos pressupostos que o
fizeram, inesperadamente, cortar
meio ponto percentual da taxa Selic, reduzindo-a para 12% ao ano.
O argumento central do BC repousa na perspectiva de que a piora na economia mundial vai prolongar-se. A hipótese se torna
mais provável na medida em que a
política econômica dos países ricos está de mãos amarradas para
reagir à queda na atividade. Não
pode mais baixar juros, pois já se
avizinham de zero. Tampouco os
governos, superendividados, são
capazes de ampliar os gastos.
Desta vez, porém, as repercussões para o Brasil, estima o Banco
Central, seriam 75% menores que
na eclosão da crise de 2008. Para
os diretores do BC, a queda da produção industrial doméstica, a desaceleração do crédito e uma certa
moderação da demanda interna já
seriam sintomas disso.
Além disso, ao confiar na obtenção da meta de 3% do PIB para a
poupança do governo (o superavit
fiscal) em 2012 e 2013 e no freio dos
empréstimos do BNDES, o BC enxerga na política de crédito e gasto
públicos um estímulo decrescente
para a atividade econômica.
Por essas razões, o balanço de
riscos para a inflação seria mais
favorável nos próximos meses,
justificando cortes "moderados"
nos juros. O BC, a contrapelo de
muitos analistas, continua convencido de que a inflação em 2012
rumará para a meta de 4,5%.
O Banco Central decidiu lançar
mão de algum grau de experimentalismo, o que não é ruim. Na tentativa de romper com a amarra dos
juros altos, tomou a decisão de
correr riscos num ambiente ainda
eivado de incertezas. Há também
otimismo antecipado sobre a disposição do governo de realizar
contenção de gastos duradoura.
É verdade que em 2011 o superavit primário ficará em 3,1% do PIB,
muito acima do que se julgava
possível no início do ano. Mas tal
desempenho decorre de controle
na boca do caixa, que prejudica
em particular o investimento publico, e do brutal aumento de receitas que não se repetirá.
Para que o BC possa testar com
risco calculado níveis muito mais
baixos de juros -os quais o país
há anos anseia-, é preciso que o
governo retome uma agenda legislativa de controle sistemático
do tamanho do Estado.
Um limite legal para a alta nos
gastos de manutenção da máquina pública tem sido citado, a propósito. Sem avanço nessa direção,
o louvável esforço do BC de enterrar a era do juro exorbitante será
bombardeado por "fogo amigo".
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