São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2011

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GUSTAVO PATU

Sarau heterodoxo

BRASÍLIA - Sempre faz sucesso citar aquela tirada segundo a qual "o propósito de estudar economia não é adquirir um conjunto de respostas prontas para questões econômicas, mas sim aprender a não ser enganado por economistas".
A autora foi muito mais do que uma grande frasista. Joan Robinson (1903-83) se bateu contra dogmas da teoria tradicional, cultivou um pensamento eclético e se tornou uma referência para heterodoxos como os nativos Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo.
Também bons frasistas, Delfim e Belluzzo estão entre os principais conselheiros de Dilma Rousseff, também economista. Suas ideias, não há dúvida, alimentaram o arrazoado de sustentação à recente e controversa decisão de reduzir os juros com a inflação em alta.
Deus Pai da heterodoxia, John Maynard Keynes (1883-1946) dizia que as ideias dos economistas são mais poderosas do que parecem. "Os homens práticos, que acreditam estar totalmente isentos de qualquer influência intelectual, são normalmente escravos de algum economista defunto."
Guido Mantega, antes da fama, acrescentava: "Aqui no Brasil, muitas vezes os homens práticos acabam reféns de economistas ainda vivos, que se deslumbraram pelas ideias de economistas defuntos, nem sempre muito virtuosos".
Os economistas do Banco Central gostam de parecer homens práticos, guiados por metas e ciência, desprovidos de charme iconoclasta. "Para 2012, as projeções de inflação no cenário de referência e no de mercado recuaram, posicionando-se ao redor do valor central da meta nos dois casos", diz a ata divulgada ontem para explicar a queda dos juros da semana passada.
Dilma, que também não é boa frasista, poderia resumir com outra de Robinson: "O trabalho dos economistas não é nos dizer o que fazer, mas mostrar por que o que faremos de qualquer maneira está de acordo com princípios corretos".

gustavo.patu@grupofolha.com.br


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