São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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PAINEL DO LEITOR

Rio São Francisco
"Não posso deixar de manifestar uma resposta ao senhor Roberto Bittencourt dos Santos ("Painel do Leitor", 7/10) a respeito do ato do bispo Luiz Flávio Cappio em defesa do rio São Francisco, o "velho (e doente) Chico". Os problemas citados pelo senhor Bittencourt necessitam realmente ser combatidos, mas por toda a sociedade brasileira, que, covardemente acomodada, só sabe reclamar, mas nada faz de concreto para mudar alguma coisa . Dom Luiz Flávio Cappio saiu em defesa de sua nobre causa com uma força de vontade e espírito nunca vista antes por esse povo passivo. Além dos resultados duvidosos em termos de eficiência e dos poucos estudos sobre o impacto ambiental, todos sabemos dos poderosíssimos interesses das grandes empreiteiras -aliados aos dos políticos de sempre. Todos sabemos e nada fazemos." Maralice Alves Massa Benedeti (Guaratinguetá, SP)

Saúde
"Lamentável e absurda a decisão do prefeito de São Paulo, José Serra, de desativar a casa de apoio a doentes terminais, considerada modelo na área de cuidados paliativos ("Serra fecha unidade para paciente terminal", Cotidiano, 8/10). Tal decisão é um evidente retrocesso e revela total insensibilidade e desrespeito aos direitos humanos."
Renato Khair, procurador do Estado (São Paulo, SP)

"Causa profunda suspeita a notícia de que a Prefeitura de São Paulo desativou a hospedaria para doentes terminais. A tendência mundial é pelo incremento dos chamados cuidados paliativos para tais pacientes, e de forma não-hospitalar. Já vivemos na estranha condição de não utilizarmos no país toda a cota permitida de morfina -nossos pacientes possuem menos opções (e mais caras) para sofrer menos. Um retrocesso como o descrito, justificado pela "falta de demanda", é coisa típica de tecnocratas envolvidos na área da saúde: uma visão mais financista e menos humanitária. Uma vergonha para uma cidade que tem como prefeito um ex-ministro da Saúde."
Célio Levyman, médico, mestre em neurologia pela Unifesp, ex-conselheiro do Cremesp (São Paulo, SP)

Erro x crime
"Parabenizo Iván Izquierdo pelo genial artigo "Erros e crimes" ("Tendências/Debates", 7/10), no qual mostrou o que é realmente a sociedade brasileira. Infelizmente, estamos pagando pelo erro, e não pelo crime, de ter acreditado em Lula como presidente."
Marcos Barbosa (Casa Branca, SP)

Aborto
"A notícia "Adolescente morre após aborto clandestino" (Cotidiano, 30/9) não causa grande impacto. Gente pobre, sem instrução e sem rumo morre aos montes, a toda hora. Se fosse uma menina de classe média ou alta, o fato poderia causar grande comoção. Talvez houvesse manifestações e passeatas. Mas o caso delas é bem outro. Possuem assistência garantida e apoio e não correm riscos se quiserem interromper uma gravidez. A adiamento na aprovação da legalização do aborto atinge apenas as mulheres de baixa renda, por esse motivo não há uma comoção maior e se aceita comodamente a imposição da Igreja Católica." Anete Araújo Guedes (Belo Horizonte, MG)

Namoro
"Que falta de preparo da policial feminina que abordou as garotas na USP Leste ("Namoro de garotas vira caso de polícia", Cotidiano, 7/10). Essa história de "atos obscenos" não convence, pois em estações de metrô, de trem ou de ônibus os casais heterossexuais só faltam fazer sexo explícito e os seguranças fingem não estar vendo nada. Agora cabe às garotas e a seus advogados fazerem cumprir a lei 10.948/01. Policiais deveriam cuidar da segurança dos cidadãos de bem, e não se ocupar da vida afetiva das pessoas."
Eliel Queiroz Barros (São Paulo, SP)

Relação incestuosa
"Como médico e presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, quero parabenizar a Folha pela série de reportagens que tem abordado a relação incestuosa entre a indústria farmacêutica e um percentual importante de médicos e de sociedades médicas, que, por meios nada éticos, financiam e constantemente aviltam o exercício ético da medicina. Desejo ainda comentar a reportagem "Estados tentam barrar remédios via Justiça" (Cotidiano, 3/10), sobre a posição de secretarias de Estado que não querem cumprir decisões judiciais quanto a pacientes com doenças raras que necessitam de medicações especiais -caras também. 1. É direito constitucional, nas leis 8.080 e 8.142, que regulamentam os artigos da Constituição Federal, o acesso à assistência farmacêutica integral. 2. Não pode ser invocado o raciocínio econômico de que, como esses tratamentos são caros, poderiam ser atendidas mais pessoas se eles não fossem realizados. Isso é o mesmo que dizer que esses doentes estão condenados a morrer, já que 80% da população brasileira depende do SUS. Ainda nessa lógica fascista, com o tempo, e para que sejam otimizados os recursos, poder-se-á alegar que não poderíamos gastar com idosos -e assim por diante. É tempo de valorizar a vida humana como singular, única. Quando alguém morre sem assistência, toda a humanidade é agredida. Acredito que a Folha possa colaborar com esse tema promovendo um debate a respeito dele." Ricardo Paiva, presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Recife, PE)

Educação
"O professor Roberto Mangabeira Unger, com a sua habitual proficiência, chamou novamente a atenção sobre a importância ímpar de que seja desenvolvida a educação pública, e não apenas o ensino público, em nosso país ("Revolucionar o ensino público", Opinião, pág. A2, 4/10). Entre os males quase incuráveis do privatismo devastador a que temos sido submetidos, a fraqueza congênita do sistema de educação pública é sem dúvida um dos piores. Agora mesmo, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria mostra que 43,4% dos trabalhadores não chegaram ao ensino médio e que apenas 14,7% têm curso superior completo. Este talvez seja o único país do mundo em que se pode ficar bilionário explorando o serviço educacional." Fábio Konder Comparato, professor titular da Faculdade de Direito da USP (São Paulo, SP)

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