São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2010

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A pressão do Nobel

Não há prova mais eloquente do acerto da escolha do Comitê do Nobel para o laureado com seu prêmio da Paz deste ano do que o fato de o agraciado ainda não saber que recebeu a honraria.
O chinês Liu Xiaobo está preso por ter organizado, há dois anos, um manifesto em que intelectuais e ativistas reivindicavam reformas políticas abrangentes no país. Não tem nenhum contato com o mundo exterior, à exceção das visitas mensais de sua mulher.
Foi condenado a 11 anos de prisão pelo crime de promover campanhas em prol de liberdades políticas no país, onde vigora uma ditadura de partido único que não tolera oposição e reprime a liberdade de expressão. A Dui Hua Foundation, organização não governamental baseada nos EUA, estima em quase 22 mil o número atual de presos políticos na China.
O país, porém, tem se valido de sua crescente relevância econômica para amenizar as pressões internacionais pela abertura política. Com a economia norte-americana presa numa relação de interdependência com a chinesa, o anterior ganhador do Nobel da Paz, o presidente Barack Obama, conduz uma diplomacia pragmática em relação ao país asiático, na qual não cabem restrições a violações dos direitos humanos.
Sua secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a afirmar que "nossa pressão nessas questões [relativas aos direitos humanos] não pode interferir na crise financeira global, na mudança climática e nas crises de segurança" -considerados os assuntos prioritários no diálogo EUA-China.
Após o prêmio a Liu, Obama sinalizou uma mudança de tom, ao dizer que a abertura política na China não caminha na mesma velocidade que a econômica. Outros países reforçaram os apelos para que o país liberte Liu. O governo chinês respondeu classificando a escolha como uma "blasfêmia".
Talvez a decisão sirva para lembrar ao mundo que em alguns casos pode-se ir além do pragmatismo comercial. Pelo menos em círculos não governamentais, o prêmio contribuirá para aumentar as pressões internacionais pela abertura democrática na China.


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