|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
A pressão do Nobel
Não há prova mais eloquente
do acerto da escolha do Comitê do
Nobel para o laureado com seu
prêmio da Paz deste ano do que o
fato de o agraciado ainda não saber que recebeu a honraria.
O chinês Liu Xiaobo está preso
por ter organizado, há dois anos,
um manifesto em que intelectuais
e ativistas reivindicavam reformas
políticas abrangentes no país. Não
tem nenhum contato com o mundo exterior, à exceção das visitas
mensais de sua mulher.
Foi condenado a 11 anos de prisão pelo crime de promover campanhas em prol de liberdades políticas no país, onde vigora uma
ditadura de partido único que não
tolera oposição e reprime a liberdade de expressão. A Dui Hua
Foundation, organização não governamental baseada nos EUA,
estima em quase 22 mil o número
atual de presos políticos na China.
O país, porém, tem se valido de
sua crescente relevância econômica para amenizar as pressões internacionais pela abertura política. Com a economia norte-americana presa numa relação de interdependência com a chinesa, o anterior ganhador do Nobel da Paz, o
presidente Barack Obama, conduz uma diplomacia pragmática
em relação ao país asiático, na
qual não cabem restrições a violações dos direitos humanos.
Sua secretária de Estado, Hillary Clinton, chegou a afirmar
que "nossa pressão nessas questões [relativas aos direitos humanos] não pode interferir na crise financeira global, na mudança climática e nas crises de segurança"
-considerados os assuntos prioritários no diálogo EUA-China.
Após o prêmio a Liu, Obama sinalizou uma mudança de tom, ao
dizer que a abertura política na
China não caminha na mesma velocidade que a econômica. Outros
países reforçaram os apelos para
que o país liberte Liu. O governo
chinês respondeu classificando a
escolha como uma "blasfêmia".
Talvez a decisão sirva para lembrar ao mundo que em alguns casos pode-se ir além do pragmatismo comercial. Pelo menos em círculos não governamentais, o prêmio contribuirá para aumentar as
pressões internacionais pela abertura democrática na China.
Texto Anterior: Editoriais: Saneamento mínimo Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Marina contra o "ecobusiness" Índice | Comunicar Erros
|