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MARCELO LEITE
Sai daí, Marina
O ÚNICO espetáculo de crescimento que se presencia no
segundo mandato de Lula,
em gestação, é o da indignidade. O
maior e o melhor exemplo da inversão -para não dizer corrupção- de valores está na fritura de
um dos poucos ministros do qual o
povo conhece o nome, além de Gilberto Gil: Marina Silva, titular do
Meio Ambiente.
Marina representa o caso raro
em que popularidade se funda no
reconhecimento pela dedicação da
vida a uma causa. Apanha há décadas de gente mais rica, poderosa e
influente, no Acre e em Brasília, os
últimos quatros anos como ministra. Nunca fraquejou, mesmo
quando injustamente eleita para
bode expiatório da crise na infra-estrutura.
O presidente se revela mais uma
vez desinformado quando aceita o
bombardeio sobre Marina para
destravar um fictício desenvolvimento represado pelo Ibama. O canhonaço parte da Casa Civil, onde
reina a herdeira de José Dirceu, antes czarina de Minas e Energia, justamente o setor sobre o qual pesam
suspeitas de novo apagão em desenvolvimento.
Pior: o artilheiro mais ativo é
Blairo Maggi, antigo rei da soja, hoje comandante do Desmatamento
Grosso, como deveria ser rebatizado o Estado sob seu governo. Os
empresários de sua estirpe não
querem escorraçar Marina da Esplanada pelo que deixa de fazer,
mas pelo que está fazendo.
Hidrelétricas? Apenas quatro
dependem no presente do Ibama,
informa o ministério. Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, as duas
mais importantes, estão na reta final -e o último tropeço foram audiências públicas canceladas pela
Justiça, em que o Ibama foi a parte
vencida. Outras seis usinas contam
com autorização, mas suas obras
não começam -o que Marina tem
a ver com isso?
O Ministério Público representa
contra empreendimentos, a Justiça embarga, e a ministra leva a fama. Há uma infinidade de recursos
à disposição de procuradores militantes, por assim dizer, para bloquear obras. Um deles, muito utilizado, é argüir a incompetência dos
governos estaduais para fazer o licenciamento. Marina negociou durante meses uma regulamentação
do artigo 23 da Constituição, para
estreitar a brecha, e encaminhou a
proposta à Casa Civil. Em março.
Quando assumiu, havia 75 funcionários na área de licenciamento
do Ibama, 68 dos quais com contratos precários. Hoje são 150, e 125
deles servidores de carreira. Eram
analisados 145 processos por ano,
no governo anterior. Agora são
225.
Há quem não goste desse tipo de
desentrave, mas por razões escusas. É por isso que o governo Lula
não merece Marina Silva.
http://cienciaemdia.zip.net
MARCELO LEITE é colunista da Folha
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