|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCOS NOBRE
15 minutos
de fama
A
DIPLOMACIA local deve
achar que o Brasil entrou de
vez para o clube dos que
contam na cena internacional. Só
isso pode explicar a "mentalidade
belicista, de concepções apanhadas
na matriz norte-americana", de
que falou Janio de Freitas em seus
artigos sobre a venda de foguetes
para equipar aviões paquistaneses
e sobre a recusa brasileira em assinar o tratado de banimento de
bombas de fragmentação.
Diz-se que a diplomacia deve defender os interesses do país. O problema é saber quem decide -e como- quais são esses interesses.
E que justificativa apresenta para
defendê-los.
No caso da venda de armas, o "interesse do país" não passa do interesse da indústria bélica. E, em
uma sociedade violenta como a
brasileira, a recusa em banir bombas de fragmentação equivale a
uma justificação da brutalidade cotidiana. É o mesmo que dizer que a
violência indiscriminada vale, desde que gere lucros, divisas e
empregos.
Um dos mais importantes avanços do século 20 foi uma crescente
e expressiva rejeição à guerra. Sim,
guerras continuam acontecendo.
Mas a disposição de cidadãs e de cidadãos de se engajar nelas diminuiu a tal ponto que muitos exércitos passaram a ser compostos exclusivamente por profissionais.
Faz parte desse movimento de
rejeição à guerra a proteção a não-combatentes e a limitação dos ataques a alvos propriamente militares. Bombas de fragmentação são
armas de destruição indiscriminada. Segundo dados de organizações
humanitárias, 98% dos alvos desses artefatos foram civis, mais de
um quarto crianças. São bombas
que se fragmentam em dezenas de
bombas menores. Algumas explodem ao atingir o solo. Outras se
transformam, na prática, em minas
que podem explodir depois de meses ou mesmo anos.
O Brasil enviou apenas um observador à cerimônia de celebração
do tratado. Defendeu a idéia de que
o tema deveria ser debatido no âmbito da ONU, e "não em uma convenção informal". Para começar, o
tratado não tem nada de informal.
E, a bem da seriedade: no que a
assinatura do tratado impede que
se continue o debate em outros
âmbitos? No que impede que a iniciativa venha a ser incluída futuramente em uma nova convenção
internacional?
O Brasil só faz realmente parte
do jogo quando se trata de negociações comerciais e de meio ambiente. No mais, foram as circunstâncias da atual crise econômica que
alçaram o país à condição de agregado temporário do clube que
manda.
Ganhou seus 15 minutos de fama
no palco internacional. Deveria pelo menos saber usar esse tempo
com decência moral e política.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A plebe rude Próximo Texto: Frases Índice
|