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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
O tema da eleição
Convém ao Brasil que a campanha presidencial de 2006 tenha
por assunto a seguinte escolha: seguir
o Brasil no rumo em que está e, em caso afirmativo, fazê-lo em mãos tucanas ou petistas, ou mudar de rumo e
decidir para onde andar e sob qual liderança. É escolha que o país não terá
como fazer se não se apresentarem os
representantes de uma alternativa de
rumo. Ou se a tarefa de representá-la
ficar delegada a um sectarismo de esquerda. Atentem os descrentes para o
imenso bem que o aparecimento dessa opção eleitoral faria ao Brasil: no
mínimo, qualificaria o debate nacional e ajudaria a trazer milhares e talvez
milhões de jovens idealistas para a vida pública.
Para cumprirem essa tarefa, os proponentes da alternativa precisam demonstrar serenidade ardente. O Brasil
não quer grito, truque e esperteza.
Quer ouvir a verdade, sem rodeios ou
floreios: a verdade, ainda que incômoda. Quer sentir que os agentes da alternativa reconheçam os obstáculos a
uma reorientação de rumo, que se
comprometam a trazer para o governo os melhores quadros técnicos do
país, que compreendam a necessidade
de trabalhar, honesta e humildemente, com o Congresso Nacional, que tenham a mania de obedecer as leis e
que se disponham a investir toda sua
energia em algumas poucas prioridades transformadoras.
O eixo da alternativa há de ser a
construção de um modelo de desenvolvimento duradouro, baseado na
democratização de oportunidades para aprender, trabalhar e produzir. É
compromisso que se expressa em
quatro diretrizes, a serem traduzidas
em iniciativas práticas, descritas e orçadas com precisão.
A causa da produção e do crescimento significa trazer o Brasil para o
mesmo caminho que os outros países
em desenvolvimento bem-sucedidos
vêm trilhando: juro baixo e câmbio
desvalorizado. Nada de calote: torcer
braços e enfrentar pressões na convicção de que, se vierem a receber metade do que recebem hoje pelo seu dinheiro, ainda estariam os credores do
governo ganhando mais do que poderiam obter em qualquer outro lugar.
A causa do trabalho exige apostar na
qualificação do trabalhador, não apenas em trabalho barato e em exportação de grãos e minérios. Acabar com
os encargos sobre a folha salarial, que
castigam quem emprega e qualifica o
trabalhador. Assegurar incentivos tributários para o emprego e a qualificação dos trabalhadores mais pobres.
Difundir, com apoio do governo, tecnologias que aumentem a produtividade do trabalho no Brasil.
A causa da educação implica preferir política social de orientação capacitadora a política social de orientação
compensatória. Priorizar a melhora
da qualidade do ensino público para
todos e a criação de oportunidades extraordinárias para os alunos pobres
mais talentosos e esforçados. E dizer,
sem mentir, que priorizar isso significa não priorizar outras necessidades
sociais -urgentes e comovedoras-
do povo brasileiro.
A causa republicana tem como primeiro requisito cortar os laços entre
os endinheirados e os governantes: as
conversas secretas em que o presidente e seus colaboradores acertam trocar
favor de governo para empresário por
dinheiro de empresário para partido e
campanha. Rompidos esses laços, podemos começar a reconstruir nossas
instituições políticas. Antes disso, não
adianta.
Dirão alguns que tudo isso é muito
pouco. Eu digo que seria uma revolução. E sustento ser essa a revolução
que o Brasil quer.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.
@ - www.law.harvard.edu/unger
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