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Grata surpresa
Resultado da balança comercial do país em 2010 é melhor do que se esperava, mas dependência em relação a commodities continua forte
Com exportações de US$ 20,9
bilhões em dezembro, um recorde
histórico, a balança comercial
brasileira encerrou o ano de 2010
com superavit de US$ 20,3 bilhões
-cerca de R$ 34 bilhões. Exportações e importações ficaram 32% e
42,5%, respectivamente, acima do
patamar de 2009.
Tendo em vista o rápido avanço
dos produtos importados no mercado interno e os problemas de
competitividade enfrentados pelos exportadores, como a taxa de
câmbio desfavorável, o resultado
foi uma grata surpresa.
O desempenho positivo não deve encobrir, no entanto, uma realidade preocupante: a maior parte
do crescimento das vendas externas está concentrada em poucos
produtos básicos. O preço do minério de ferro, por exemplo, subiu
80% em 2010, e as vendas atingiram US$ 28,5 bilhões -um crescimento de 118,3% em relação a
2009. Com isso, a Vale, responsável por 80% das exportações do
produto, poderia ser considerada,
sozinha, responsável por todo o
superavit comercial brasileiro.
No complexo do agronegócio
repete-se o padrão. Houve fortes
altas de preços nos últimos meses,
que podem continuar neste ano
em razão de estoques baixos e incertezas climáticas.
Na soma geral, a participação
das commodities nas exportações
atingiu 60% no último trimestre
de 2010, uma alta de oito pontos
percentuais em relação ao mesmo
período do ano passado.
Já as vendas de manufaturados
cresceram bem menos, cerca de
20%, num contexto de forte concorrência global. É evidente que a
alta competitividade do Brasil em
commodities é um fator positivo,
que deve continuar a ser explorado em favor do país -mas os dados indicam a necessidade de obter desempenho melhor nas vendas de bens industrializados.
Nesse sentido, foram auspiciosas as primeiras declarações do
ministro do Desenvolvimento,
Fernando Pimentel, prometendo
"toda a atenção com nossas contas externas, tanto do ponto de
vista de desoneração como de
defesa comercial".
Embora tenha mencionado a
necessidade de medidas para conter a valorização do real, o ministro considerou que o regime de
câmbio flutuante deve ser mantido. Novos caminhos, então, precisariam ser explorados para facilitar a vida dos exportadores.
Entre eles certamente devem-se
buscar as trilhas da desoneração
tributária, da gestão econômica
mais eficiente e da melhoria das
estratégias comerciais.
A agenda do comércio exige
concentração em objetivos e visão
de longo prazo, que não foram os
pontos fortes do governo nos últimos anos. Entre medidas que podem ser tomadas, seria recomendável maior coordenação da burocracia federal voltada para área de
comércio exterior, hoje dispersa
em diversos órgãos, como Camex,
BNDES e Itamaraty. Um comando
unificado, talvez ligado à Presidência, poderia dar mais eficiência às ações do governo no setor.
Menos preconceito ideológico e
mais resultados na negociação de
acordos comerciais bilaterais é
outra linha a ser seguida. O Brasil
precisa avançar na conquista de
mercados e não pode perder oportunidades em nome de concepções geopolíticas duvidosas.
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