São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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Grata surpresa

Resultado da balança comercial do país em 2010 é melhor do que se esperava, mas dependência em relação a commodities continua forte

Com exportações de US$ 20,9 bilhões em dezembro, um recorde histórico, a balança comercial brasileira encerrou o ano de 2010 com superavit de US$ 20,3 bilhões -cerca de R$ 34 bilhões. Exportações e importações ficaram 32% e 42,5%, respectivamente, acima do patamar de 2009.
Tendo em vista o rápido avanço dos produtos importados no mercado interno e os problemas de competitividade enfrentados pelos exportadores, como a taxa de câmbio desfavorável, o resultado foi uma grata surpresa.
O desempenho positivo não deve encobrir, no entanto, uma realidade preocupante: a maior parte do crescimento das vendas externas está concentrada em poucos produtos básicos. O preço do minério de ferro, por exemplo, subiu 80% em 2010, e as vendas atingiram US$ 28,5 bilhões -um crescimento de 118,3% em relação a 2009. Com isso, a Vale, responsável por 80% das exportações do produto, poderia ser considerada, sozinha, responsável por todo o superavit comercial brasileiro.
No complexo do agronegócio repete-se o padrão. Houve fortes altas de preços nos últimos meses, que podem continuar neste ano em razão de estoques baixos e incertezas climáticas.
Na soma geral, a participação das commodities nas exportações atingiu 60% no último trimestre de 2010, uma alta de oito pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado.
Já as vendas de manufaturados cresceram bem menos, cerca de 20%, num contexto de forte concorrência global. É evidente que a alta competitividade do Brasil em commodities é um fator positivo, que deve continuar a ser explorado em favor do país -mas os dados indicam a necessidade de obter desempenho melhor nas vendas de bens industrializados.
Nesse sentido, foram auspiciosas as primeiras declarações do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, prometendo "toda a atenção com nossas contas externas, tanto do ponto de vista de desoneração como de defesa comercial".
Embora tenha mencionado a necessidade de medidas para conter a valorização do real, o ministro considerou que o regime de câmbio flutuante deve ser mantido. Novos caminhos, então, precisariam ser explorados para facilitar a vida dos exportadores.
Entre eles certamente devem-se buscar as trilhas da desoneração tributária, da gestão econômica mais eficiente e da melhoria das estratégias comerciais.
A agenda do comércio exige concentração em objetivos e visão de longo prazo, que não foram os pontos fortes do governo nos últimos anos. Entre medidas que podem ser tomadas, seria recomendável maior coordenação da burocracia federal voltada para área de comércio exterior, hoje dispersa em diversos órgãos, como Camex, BNDES e Itamaraty. Um comando unificado, talvez ligado à Presidência, poderia dar mais eficiência às ações do governo no setor.
Menos preconceito ideológico e mais resultados na negociação de acordos comerciais bilaterais é outra linha a ser seguida. O Brasil precisa avançar na conquista de mercados e não pode perder oportunidades em nome de concepções geopolíticas duvidosas.


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