São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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RICARDO MELO

Dança das cadeiras

SÃO PAULO - Como que para provar que o momento é de continuidade, o governo Dilma começa com o apetite partidário por fatias da administração, dificilmente saciável mesmo com o número astronômico de ministérios. Dos 37 existentes, quando muito um terço vale a pena em termos das moedas utilizadas nestas negociações: verbas, influência política e empregos.
O PMDB é o que mais grita. Nem se preocupa em invocar competências, capacidade técnica ou vocação para os cargos. Interessa só o fatiamento entre os amigos. Não por acaso, o chefe da tropa é o deputado Henrique Alves (RN), que está longe de ser novato em política -é deputado há 40 anos e chegou a ser cotado para vice-presidente na chapa de José Serra em 2002.
Ao examinar sua trajetória, porém, é impossível encontrar um projeto relevante ou contribuição significativa ao Legislativo. O que se destaca é o fato de ter sido abatido em suas pretensões executivas por uma denúncia da ex-mu001 . 0000.00
lher, como bem relembrou o repórter Ranier Bragon nesta Folha.
Segundo ela, Alves mantinha US$ 15 milhões no exterior. Entre desmenti-la nos fatos, defender a biografia ou abafar o caso, o deputado preferiu a última alternativa. Recolheu-se aos bastidores, onde, reza a lenda brasiliense, é imbatível como articulador de interesses partidários e de aliados -palavras que bastam a todo bom entendedor.
No essencial, Alves representa como poucos o PMDB pós-ditadura. O partido hoje não passa de uma federação de personagens locais, um balcão de negócios capilarizado e dirigido por caciques que convivem solidariamente em torno de um só objetivo: abocanhar pedaços da administração pública.
Seria curioso pedir a cinco ou seis dirigentes que recitassem de cor dez pontos programáticos da legenda. A resposta daria um enredo de Carnaval. Em compensação, todos certamente trazem na ponta da língua quais postos prometem dividendo$ à tropa do partido.


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