São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Fuscas, bilhar e churrasco

SÃO PAULO - O que há em comum entre os "fusquinhas" que o então prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf, doou aos campeões mundiais de futebol de 1970 e a farra com cartões de crédito/débito nos governos federal e paulista?
Há duas coisas: primeiro, você pagou por todas essas farras. Segundo, é formidável a facilidade com que funcionários graduados e não tão graduados confundem o bolso próprio com o erário.
Entre os "fuscas" e os cartões, há não apenas o longo tempo decorrido (38 anos), mas uma mudança das regras do jogo, que passou da ditadura para a democracia, e uma aparente -e só aparente- guinada nos partidos/personalidades envolvidas, da direita para a esquerda, ainda que a esquerda tenha se tornado tão conservadora quanto a direita.
Tucanos e lulopetistas foram, durante um tempo, os mais duros críticos do malufismo, com o qual disputavam espaço em São Paulo. Ao chegarem ao poder, no entanto, ambos casaram-se com esse, digamos, modelo de usar dinheiro público para compras particulares, sejam "fuscas", seja tapioca, seja mesa de bilhar, seja uma montanha de carne em churrascaria.
Depois que o malufismo entrou em irremediável declínio, tucanos e lulopetistas fazem o mais indigente Fla-Flu da história política brasileira, um duelo que se vai repetir agora nas prometidas CPIs dos cartões de um e outro lado, como se se tratasse de apurar quem é mais corrupto.
Sim, porque o abuso no uso dos cartões é corrupção e até o plástico de que eles são feitos sabe que o abuso é decorrência de uma cultura política profundamente apodrecida.
Os 38 anos passados entre os "fuscas" de Maluf e os cartões tucanos e lulopetistas serviram apenas para comprovar que tudo mudou para que tudo ficasse exatamente igual: o seu, o meu, o nosso dinheirinho paga "fuscas", paga tapiocas, mesa de bilhar e muito churrasco.


crossi@uol.com.br

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