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CLÓVIS ROSSI
Fuscas, bilhar e churrasco
SÃO PAULO - O que há em comum entre os "fusquinhas" que o
então prefeito de São Paulo, Paulo
Salim Maluf, doou aos campeões
mundiais de futebol de 1970 e a farra com cartões de crédito/débito
nos governos federal e paulista?
Há duas coisas: primeiro, você
pagou por todas essas farras. Segundo, é formidável a facilidade
com que funcionários graduados e
não tão graduados confundem o
bolso próprio com o erário.
Entre os "fuscas" e os cartões, há
não apenas o longo tempo decorrido (38 anos), mas uma mudança das
regras do jogo, que passou da ditadura para a democracia, e uma aparente -e só aparente- guinada nos
partidos/personalidades envolvidas, da direita para a esquerda, ainda que a esquerda tenha se tornado
tão conservadora quanto a direita.
Tucanos e lulopetistas foram, durante um tempo, os mais duros críticos do malufismo, com o qual disputavam espaço em São Paulo. Ao
chegarem ao poder, no entanto,
ambos casaram-se com esse, digamos, modelo de usar dinheiro público para compras particulares, sejam "fuscas", seja tapioca, seja mesa
de bilhar, seja uma montanha de
carne em churrascaria.
Depois que o malufismo entrou
em irremediável declínio, tucanos e
lulopetistas fazem o mais indigente
Fla-Flu da história política brasileira, um duelo que se vai repetir agora
nas prometidas CPIs dos cartões de
um e outro lado, como se se tratasse
de apurar quem é mais corrupto.
Sim, porque o abuso no uso dos cartões é corrupção e até o plástico de
que eles são feitos sabe que o abuso
é decorrência de uma cultura política profundamente apodrecida.
Os 38 anos passados entre os
"fuscas" de Maluf e os cartões tucanos e lulopetistas serviram apenas
para comprovar que tudo mudou
para que tudo ficasse exatamente
igual: o seu, o meu, o nosso dinheirinho paga "fuscas", paga tapiocas,
mesa de bilhar e muito churrasco.
crossi@uol.com.br
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