São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Da tapioca à pizza

BRASÍLIA - Os R$ 108 milhões dos cartões do governo Serra em 2007 são o Eduardo Azeredo da crise da tapioca. Quando os tucanos mais comemoravam o mensalão, Azeredo entrou na roda e estragou-lhes a festa. Quando começavam a brindar a tapiocaria, vem a água fria dos cartões de Serra.
Quanto mais se acusam, mais tucanos e petistas se parecem. Os dois lados blefam ao alardear a criação de uma CPI em Brasília e outra em São Paulo para investigar uso do dinheiro público em restaurantes caros e baratos, lojas de doces e de jóias, hotéis e carros alugados em feriados. Uma orgia.
A CPI e a crise tendem a evoluir de tapioca para pizza e emperram três movimentos que tucanos e petistas vinham ensaiando antes e durante o Carnaval: Serra e os filhos de Lula aos sorrisos num camarote no Rio de Janeiro; conversas mais do que amigáveis entre Aécio Neves e Fernando Pimentel para uma candidatura única em Belo Horizonte; os acertos Lula-Serra-Aécio para acabar com a reeleição e rever o cronograma.
Como pano de fundo, a entrevista de José Dirceu à revista "Piauí", em que ele releva antigas e sólidas divergências e elogia Serra como homem público e presidenciável. Neste momento, Dirceu deixou de lado o consultor e se reassumiu como um dos principais quadros políticos do país. Não foi descuido.
Os petistas e tucanos de internet, essas novas categorias do cenário político, irresponsáveis e agressivas, ficariam surpresíssimos se ouvissem a troca de elogios que Serra e ilustres lulistas trocam fora dos holofotes. Mas não seguiriam.
Aliás, nem compreenderiam.
Qualquer tentativa de pensar grande, seja de Lula, seja de Serra, seja de Aécio, acaba indo de roldão na avalanche de pequenos e grandes erros comuns aos dois lados. O dinheiro público vai para o ralo, e a política vai junto. Certamente porque o poder é deletério e talvez porque falte grandeza ao ser humano.


elianec@uol.com.br

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