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ELIANE CANTANHÊDE
Da tapioca à pizza
BRASÍLIA - Os R$ 108 milhões
dos cartões do governo Serra em
2007 são o Eduardo Azeredo da crise da tapioca. Quando os tucanos
mais comemoravam o mensalão,
Azeredo entrou na roda e estragou-lhes a festa. Quando começavam a
brindar a tapiocaria, vem a água fria
dos cartões de Serra.
Quanto mais se acusam, mais tucanos e petistas se parecem. Os dois
lados blefam ao alardear a criação
de uma CPI em Brasília e outra em
São Paulo para investigar uso do dinheiro público em restaurantes caros e baratos, lojas de doces e de
jóias, hotéis e carros alugados em
feriados. Uma orgia.
A CPI e a crise tendem a evoluir
de tapioca para pizza e emperram
três movimentos que tucanos e petistas vinham ensaiando antes e durante o Carnaval: Serra e os filhos
de Lula aos sorrisos num camarote
no Rio de Janeiro; conversas mais
do que amigáveis entre Aécio Neves
e Fernando Pimentel para uma
candidatura única em Belo Horizonte; os acertos Lula-Serra-Aécio
para acabar com a reeleição e rever
o cronograma.
Como pano de fundo, a entrevista
de José Dirceu à revista "Piauí", em
que ele releva antigas e sólidas divergências e elogia Serra como homem público e presidenciável. Neste momento, Dirceu deixou de lado
o consultor e se reassumiu como
um dos principais quadros políticos
do país. Não foi descuido.
Os petistas e tucanos de internet,
essas novas categorias do cenário
político, irresponsáveis e agressivas, ficariam surpresíssimos se ouvissem a troca de elogios que Serra
e ilustres lulistas trocam fora dos
holofotes. Mas não seguiriam.
Aliás, nem compreenderiam.
Qualquer tentativa de pensar
grande, seja de Lula, seja de Serra,
seja de Aécio, acaba indo de roldão
na avalanche de pequenos e grandes erros comuns aos dois lados. O
dinheiro público vai para o ralo, e a
política vai junto. Certamente porque o poder é deletério e talvez porque falte grandeza ao ser humano.
elianec@uol.com.br
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