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Evitar o retrocesso
Contra o protecionismo, que a todos empobrece, cabe reforçar abordagem compartilhada para
superação da crise global
UMA DAS maiores ameaças ligadas à crise econômica se concretiza.
O protecionismo econômico e comercial avança em
diversos países. Nos EUA, o pacote de estímulo econômico que
o governo Obama luta para aprovar despertou diversas reações
ao prever, em seu texto inicial, a
cláusula "Buy American".
Pelo dispositivo, parte do dinheiro público destinado a resgatar a economia americana seria condicionado ao uso de insumos locais. A medida foi atenuada pela reação internacional e
pela ação de congressistas contrários ao protecionismo, mas
ainda sobrevive no pacote.
Fora dos EUA, barreiras similares são anunciadas. É fácil
compreender as razões. O FMI
projeta que o comércio mundial
sofrerá retração de 2,8% neste
ano, depois de registrar expansão de 7,2% em 2007 e 4,1% em
2008. Se a queda for confirmada,
será a primeira desde 1982.
A fim de aplacar o descontentamento popular, em tempo de
desemprego crescente, países erguem barreiras comerciais. O
próprio governo brasileiro, vale
lembrar, ensaiou um passo nesse
sentido há duas semanas, felizmente anulado depressa.
O protecionismo, dado o grau
de interdependência da economia contemporânea, difunde
uma ilusão poderosa de que beneficia o emprego local, enquanto enseja reações internacionais
que produzem o efeito contrário.
Um país que se fecha às mercadorias dos outros sofrerá, naturalmente, retaliação na mesma
moeda. Empregos "salvos" nas
atividades importadoras serão
perdidos nas exportadoras.
A diminuição artificial nas trocas de mercadorias provocada
por uma guerra comercial de todos contra todos fustiga a competitividade das economias. A
produtividade e a inovação despencam, o que deprime a atividade econômica, a renda e o emprego em escala global.
Contra esse risco, a Organização Mundial do Comércio se reuniu extraordinariamente ontem
em Genebra e decidiu apertar o
cerco contra a nova onda de barreiras comerciais. Outro fórum
importante para reforçar o compromisso com o livre comércio
será a reunião do G20 (grupo
ampliado de países mais industrializados, que inclui Brasil, Índia e China), marcada para 2 de
abril em Londres.
Mais do que nunca, é hora de
prestigiar os mecanismos compartilhados de superação da crise. Só assim será possível deter a
marcha corrosiva do protecionismo, que vem associado ao nacionalismo e à xenofobia. O salve-se-quem-puder é uma receita
certa para a tragédia.
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