São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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Editoriais

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Evitar o retrocesso

Contra o protecionismo, que a todos empobrece, cabe reforçar abordagem compartilhada para superação da crise global

UMA DAS maiores ameaças ligadas à crise econômica se concretiza. O protecionismo econômico e comercial avança em diversos países. Nos EUA, o pacote de estímulo econômico que o governo Obama luta para aprovar despertou diversas reações ao prever, em seu texto inicial, a cláusula "Buy American".
Pelo dispositivo, parte do dinheiro público destinado a resgatar a economia americana seria condicionado ao uso de insumos locais. A medida foi atenuada pela reação internacional e pela ação de congressistas contrários ao protecionismo, mas ainda sobrevive no pacote.
Fora dos EUA, barreiras similares são anunciadas. É fácil compreender as razões. O FMI projeta que o comércio mundial sofrerá retração de 2,8% neste ano, depois de registrar expansão de 7,2% em 2007 e 4,1% em 2008. Se a queda for confirmada, será a primeira desde 1982.
A fim de aplacar o descontentamento popular, em tempo de desemprego crescente, países erguem barreiras comerciais. O próprio governo brasileiro, vale lembrar, ensaiou um passo nesse sentido há duas semanas, felizmente anulado depressa.
O protecionismo, dado o grau de interdependência da economia contemporânea, difunde uma ilusão poderosa de que beneficia o emprego local, enquanto enseja reações internacionais que produzem o efeito contrário. Um país que se fecha às mercadorias dos outros sofrerá, naturalmente, retaliação na mesma moeda. Empregos "salvos" nas atividades importadoras serão perdidos nas exportadoras.
A diminuição artificial nas trocas de mercadorias provocada por uma guerra comercial de todos contra todos fustiga a competitividade das economias. A produtividade e a inovação despencam, o que deprime a atividade econômica, a renda e o emprego em escala global.
Contra esse risco, a Organização Mundial do Comércio se reuniu extraordinariamente ontem em Genebra e decidiu apertar o cerco contra a nova onda de barreiras comerciais. Outro fórum importante para reforçar o compromisso com o livre comércio será a reunião do G20 (grupo ampliado de países mais industrializados, que inclui Brasil, Índia e China), marcada para 2 de abril em Londres.
Mais do que nunca, é hora de prestigiar os mecanismos compartilhados de superação da crise. Só assim será possível deter a marcha corrosiva do protecionismo, que vem associado ao nacionalismo e à xenofobia. O salve-se-quem-puder é uma receita certa para a tragédia.


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