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CLÓVIS ROSSI
Sinais, mas ambíguos
SÃO PAULO - Antes de mais nada,
agradeço aos leitores que se deram
ao trabalho de enviar explicações
para a aparente contradição entre a
crise e o fato de o fechamento de
contratos para financiamento de
imóveis pela Caixa Econômica Federal ter batido o recordo em janeiro -aliás, foi o melhor janeiro de todos os tempos desse ponto de vista.
Algumas explicações fazem sentido, outras despertam ainda mais
perplexidade, mas creio que a pesquisa do Datafolha publicada ontem ajuda a entender a aparente
(ou real) contradição.
Dois terços dos pesquisados dizem não ter medo de perder o emprego, embora em um terço dos lares paulistanos ao menos um dos
integrantes tenha ido para a rua nos
seis meses mais recentes -ou seja,
no período em que a crise começou
a deixar de ser "marolinha".
Embora o corte de postos de trabalho seja sério e inquietante, ainda
não foi suficiente para causar inquietação na camada majoritária de
trabalhadores. Daí decorre que, se
há certa segurança quanto ao emprego por parte da maioria, haverá
naturalmente propensão ao consumo. Aliás, é o que mostra a pesquisa: apenas 32% dos consultados disseram ter deixado de comprar algum bem com medo da crise.
Pesquisa à parte, a vida real mostra crescimento nos licenciamentos de carros de 1,5% em janeiro sobre dezembro. De novo, sem confiança, não haveria tal aumento justamente quando a "marolinha" vira
tsunami no noticiário.
Entenda-se o "apenas" dois parágrafos acima meramente como
contraponto ao fato de que a maioria não deixou de comprar. Trinta e
dois por cento de gente deixando de
comprar seria assustador, creio, em
circunstâncias normais. Numa crise que muita gente trata como inédita, não sei se é muito ou pouco.
Enfim, tudo somado, tem-se um
panorama excessivamente embaçado tanto para previsões otimistas
como para antecipar o apocalipse
na primeira curva da esquina.
crossi@uol.com.br
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