São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Um G8 mais representativo

MICHELE VALENSISE


O governo italiano pretende tornar a cúpula do G8 mais eficaz e representativa. Queremos incluir Brasil e demais membros do G5

A ITÁLIA assumiu a presidência do G8 em janeiro deste ano numa fase particularmente crítica das relações internacionais, na qual as instituições da "governança" mundial foram duramente desafiadas pela crise financeira em ato.
Ao lado da preparação dos diferentes dossiês, o governo italiano é, portanto, muito atento ao formato da cúpula (que neste ano acontecerá de 8 a 10 de julho no arquipélago da Madalena, na Sardenha, Itália), no intuito de torná-la mais eficaz e representativa, adaptando-a às novas exigências.
Há algum tempo vem sendo profundamente discutida a melhor maneira de envolver as principais economias emergentes no enfrentamento das grandes questões globais.
Agora, a Itália pretende passar das palavras aos fatos, propondo a superação do simples diálogo para incluir plenamente os membros do G5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) nos trabalhos da cúpula já a partir do segundo dia. Será convidado também o Egito. Os líderes dos principais países emergentes serão convidados ao encontro com os representantes do continente africano ao longo do terceiro dia dos trabalhos. A participação de um grande país como o Brasil será de extrema importância.
A proposta italiana encontra seu fundamento na convicção da necessidade de uma responsabilidade compartilhada com as economias emergentes a respeito dos grandes temas globais -por exemplo, meio ambiente, regulação do sistema financeiro internacional e desenvolvimento dos países mais pobres.
Mas a abordagem inovadora da presidência italiana não se limita ao formato da cúpula. Pretendemos promover algumas novidades também no que diz respeito à escolha das temáticas e aos conteúdos.
Relativamente à crise financeira, queremos acentuar a coordenação internacional das medidas de apoio ao consumo e aos investimentos e reforçar a atividade de vigilância do FMI: é importante favorecer uma maior transparência do sistema financeiro internacional, uma ação mais eficaz de combate às atividades ilegais e iniciativas contra os paraísos fiscais, o sigilo bancário e a lavagem de dinheiro.
Acreditamos, inclusive, que seja preciso fortalecer o processo de liberalização das relações comerciais para alcançar rapidamente um acordo equilibrado na OMC, de maneira que possam ser evitadas as tentações protecionistas que, posteriormente, agravariam a crise.
Com relação ao meio ambiente, a presidência italiana mira harmonizar as diferentes posições com vistas à realização da Conferência de Copenhague, programada para dezembro, que deverá definir um novo acordo global. Mais especificamente, queremos promover um acordo acerca das metas de redução das emissões e a realização de um mercado global dos direitos de emissão de CO2.
No tocante à questão energética, a presidência italiana do G8 perseguirá, entre outros, o objetivo de incrementar a energia produzida por fontes renováveis e alternativas.
Tal programa de trabalho concentrar-se-á em alguns objetivos, por vezes ambiciosos, que esperamos alcançar, como a ativação de mecanismo internacional, alimentado por parceria público-privada, para a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento ou a adoção de diretrizes comuns para prevenção e gerenciamento de desastres naturais.
O G8 também deve atuar mais e melhor a favor do mundo em desenvolvimento, em especial a África. Trata-se de um tema fortemente sentido pelo governo italiano, que, já por ocasião da cúpula realizada anteriormente na Itália (em Gênova, no ano de 2001), foi promotor de um plano de ação especial para a África.
Almejamos ainda valorizar todos os fatores capazes de influir positivamente no desenvolvimento (paz e segurança, comércio e investimentos, cancelamento da dívida externa, democracia e consolidação institucional) e mobilizar recursos auxiliares ao lado das tradicionais ajudas públicas, como as possíveis contribuições voluntárias de empresas e cidadãos.
E pretendemos lançar uma "Parceria Global para a Agricultura e a Segurança Alimentar", com o intuito de levar a agricultura de volta ao centro das estratégias de desenvolvimento. Nesse caso, trata-se de uma consolidada prioridade italiana, incluída nos objetivos da Exposição Universal que acontecerá em Milão, em 2015.
A presidência italiana do G8 é, acima de tudo, ciente do impacto da crise e das escolhas políticas e econômicas dos governos sobre o destino de centenas de milhões de homens e mulheres. Com esse espírito, estamos organizando também uma reunião dos ministros do Trabalho dos países do G8 e de outras importantes economias (em Roma, de 29 a 31 de março) para discutir a "dimensão humana" da crise financeira mundial (desemprego, subsídios às famílias, requalificação dos trabalhadores). Entendemos preencher assim o vazio deixado pelas iniciativas até agora tomadas por parte da comunidade internacional no enfrentamento da crise.
Para essa reunião, à qual foi convidado o ministro Carlos Lupi, aguardamos uma importante contribuição do Brasil.


MICHELE VALENSISE , 56, é o embaixador da Itália no Brasil.

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