São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Outros tempos

RIO DE JANEIRO - Passando pela avenida Atlântica, vi um helicóptero descer na praia, numa operação que me pareceu de treinamento. Lembrei-me de Juscelino Kubitschek. No dia seguinte ao de sua posse, às 7h30 da manhã, ele desceu em frente ao Copacabana Palace. Sem qualquer combinação prévia, foi buscar Richard Nixon, vice-presidente dos EUA, que viera para as solenidades que terminaram com uma recepção no Itamaraty.
Encontrou-o tomando o café da manhã e convidou-o a ir a Volta Redonda. Surpreendido com a falta de protocolo, Nixon topou o convite, visitou as instalações da siderurgia nascente, prometeu que levaria o pedido de um financiamento para duplicar a produção de aço.
No cumprimento de suas metas, Juscelino precisava de muitas chapas para a indústria naval e automobilística. Nixon convenceu o presidente Eisenhower, que liberou o crédito para o Brasil.
Os dois estiveram juntos na sessão de posse e na recepção, Juscelino não tocara no assunto. Durante a campanha eleitoral, ele lançara seu programa de 30 metas, à última hora acrescida de mais uma, que ele chamou de meta-síntese: a construção de Brasília.
JK não chegava a ser um estadista, como Getulio Vargas. Não pensava conceitualmente, mas pontualmente. Seus discursos eram objetivos, demandando trabalho e vontade. Tivemos agora a primeira ida de Dilma Rousseff ao Congresso, onde condensou em sua fala as promessas da campanha, num "mix" de otimismo. Conceitualmente perfeito, na mesma base de todos os novos presidentes. Pontualmente, quase nada.
Lembrando JK mais uma vez: seu mandato não foi o mar de rosas que alguns atribuem àquele período. Sofreu duas tentativas de deposição promovidas por militares, sua posse somente se tornou possível depois do afastamento de um antecessor golpista.


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