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CONFIANÇA ABALADA
Há hoje como que um divórcio entre o governo e a população. Tal fato
fica notório quando se observam os
resultados da pesquisa Datafolha
realizada em todas as unidades da
Federação e publicada no último domingo por este jornal. Pela primeira
vez desde que assumiu o comando
do país, o desempenho do governo
Fernando Henrique Cardoso foi mais
reprovado do que aprovado.
A queda da aceitação do presidente
pela população se deve basicamente
ao receio da maioria de que o governo não seja capaz de controlar a crise
econômica, a qual, embora em parte
decorrente da turbulência mundial, é
atribuída por 59% dos entrevistados
principalmente à atitude do governo.
Embora parte da população se sinta
surpresa e frustrada, é preciso reconhecer que os resultados da pesquisa
são o reflexo de uma crise há muito
temida. Crise que, se aparece sob a
forma de uma nuvem de incertezas
econômicas, foi de certa forma gestada politicamente dentro do país e
conflagrada por uma reviravolta no
cenário externo, encontrando o governo em situação fragilizada.
Conveniências pessoais do presidente pela reeleição e interesses fisiológicos de sua coalizão adiaram
ou simplesmente relegaram uma
agenda de reformas que, sabia-se
desde o início, eram imprescindíveis
para dar sustentabilidade à moeda.
Tal comportamento no campo da
política foi acompanhado por uma
aposta cambial que se revelou insustentável. A desvalorização do real,
nas circunstâncias em que se deu,
aliada ao temor de volta da inflação e
da perspectiva de agravamento do
desemprego, equivale à explosão de
uma bomba-relógio que FHC talvez
pudesse ter desativado a tempo ou
pelo menos atenuado seu impacto.
Agora, num momento de incerteza
aguda, cabe a FHC recompor sua credibilidade. É preciso que tenha energia, sinalize um projeto consistente
para o país e mostre que governa para os brasileiros, e não apenas a reboque das insanidades do mercado.
O tempo é escasso, mas ainda existe.
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