São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONFIANÇA ABALADA

Há hoje como que um divórcio entre o governo e a população. Tal fato fica notório quando se observam os resultados da pesquisa Datafolha realizada em todas as unidades da Federação e publicada no último domingo por este jornal. Pela primeira vez desde que assumiu o comando do país, o desempenho do governo Fernando Henrique Cardoso foi mais reprovado do que aprovado.
A queda da aceitação do presidente pela população se deve basicamente ao receio da maioria de que o governo não seja capaz de controlar a crise econômica, a qual, embora em parte decorrente da turbulência mundial, é atribuída por 59% dos entrevistados principalmente à atitude do governo.
Embora parte da população se sinta surpresa e frustrada, é preciso reconhecer que os resultados da pesquisa são o reflexo de uma crise há muito temida. Crise que, se aparece sob a forma de uma nuvem de incertezas econômicas, foi de certa forma gestada politicamente dentro do país e conflagrada por uma reviravolta no cenário externo, encontrando o governo em situação fragilizada.
Conveniências pessoais do presidente pela reeleição e interesses fisiológicos de sua coalizão adiaram ou simplesmente relegaram uma agenda de reformas que, sabia-se desde o início, eram imprescindíveis para dar sustentabilidade à moeda.
Tal comportamento no campo da política foi acompanhado por uma aposta cambial que se revelou insustentável. A desvalorização do real, nas circunstâncias em que se deu, aliada ao temor de volta da inflação e da perspectiva de agravamento do desemprego, equivale à explosão de uma bomba-relógio que FHC talvez pudesse ter desativado a tempo ou pelo menos atenuado seu impacto.
Agora, num momento de incerteza aguda, cabe a FHC recompor sua credibilidade. É preciso que tenha energia, sinalize um projeto consistente para o país e mostre que governa para os brasileiros, e não apenas a reboque das insanidades do mercado. O tempo é escasso, mas ainda existe.


Texto Anterior: Editorial: CESTA DE OPORTUNISMOS
Próximo Texto: Editorial: LIÇÕES ASIÁTICAS
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.