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Dilma para todos
Presidente deveria adotar a prática usual em democracias de dar entrevistas coletivas regulares para conferir mais transparência a seu governo
Enquanto mantém a orientação
geral fixada por seu antecessor, a
presidente Dilma Rousseff trata de
introduzir, aqui e ali, retificações
sugeridas pela conjuntura ou por
sua própria personalidade.
Esse parece ser o caso da comunicação com o público. Se o presidente Lula não perdia ocasião de
falar sobre qualquer assunto, abusando de improvisos nem sempre
felizes, Dilma mantém nesse quesito uma atitude parcimoniosa.
O estilo anterior, em que pesem
os exageros, favoreceu uma identificação positiva entre o chefe do
Estado e a sensibilidade popular.
Mas é inegável que as maneiras da
atual presidente restituem certa
continência que o exercício do
cargo requer.
Numa democracia, deveriam
ser estimuladas todas as formas
de comunicação entre o governante e a sociedade. Por meio delas, a autoridade procura prestar
contas de sua atuação e tem a
oportunidade de rebater críticas e
esclarecer dúvidas.
Uma forma de incrementar essa
interação é o estabelecimento de
entrevistas coletivas. Num encontro digno do nome, o acesso é franqueado à mais ampla gama de veículos, o governante escolhe quem
lhe fará perguntas que ele não conhece de antemão e a praxe concede muitas vezes ao jornalista o
direito de reperguntar.
A realização sistemática desses
encontros, em vez de promovê-los
só quando parece conveniente ao
governo do momento, permite
acompanhar de forma comparativa e analítica os argumentos utilizados pela autoridade.
Democracias desenvolvidas,
como França e Reino Unido, adotam práticas assim. Outras, como
México e Colômbia, promovem essas reuniões de forma esporádica.
Mas nenhum país levou as coletivas presidenciais ao patamar que
elas ocupam nos EUA, onde configuram um ritual periódico.
Às vezes criticada por certos
anacronismos de técnica eleitoral,
a democracia americana está entre as que mais propiciam a porosidade do sistema político, sua capacidade de assimilar e irradiar
movimentos de opinião como
aquele, ainda recente, que elegeu
o presidente Obama.
Conversas habituais entre o
presidente norte-americano e grupos de jornalistas ocorriam desde
pelo menos o início do século 20.
Esses encontros se ritualizaram
por volta de 1955, quando também
passaram a ser transmitidos pela
televisão, por iniciativa do então
presidente Dwight Eisenhower.
Diferentemente de seu antecessor, que se sentia mais à vontade
na retórica emocional das mensagens unilaterais, Dilma Rousseff
dá indícios de confiar no debate
objetivo e organizado dos problemas comuns.
Autênticas coletivas de imprensa são valioso instrumento para
levar esse debate a público. Assumindo o compromisso de promovê-las periodicamente, a presidente daria um passo corajoso no
rumo de conferir mais transparência ao governo.
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