São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2011

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Dilma para todos

Presidente deveria adotar a prática usual em democracias de dar entrevistas coletivas regulares para conferir mais transparência a seu governo

Enquanto mantém a orientação geral fixada por seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff trata de introduzir, aqui e ali, retificações sugeridas pela conjuntura ou por sua própria personalidade.
Esse parece ser o caso da comunicação com o público. Se o presidente Lula não perdia ocasião de falar sobre qualquer assunto, abusando de improvisos nem sempre felizes, Dilma mantém nesse quesito uma atitude parcimoniosa.
O estilo anterior, em que pesem os exageros, favoreceu uma identificação positiva entre o chefe do Estado e a sensibilidade popular. Mas é inegável que as maneiras da atual presidente restituem certa continência que o exercício do cargo requer.
Numa democracia, deveriam ser estimuladas todas as formas de comunicação entre o governante e a sociedade. Por meio delas, a autoridade procura prestar contas de sua atuação e tem a oportunidade de rebater críticas e esclarecer dúvidas.
Uma forma de incrementar essa interação é o estabelecimento de entrevistas coletivas. Num encontro digno do nome, o acesso é franqueado à mais ampla gama de veículos, o governante escolhe quem lhe fará perguntas que ele não conhece de antemão e a praxe concede muitas vezes ao jornalista o direito de reperguntar.
A realização sistemática desses encontros, em vez de promovê-los só quando parece conveniente ao governo do momento, permite acompanhar de forma comparativa e analítica os argumentos utilizados pela autoridade.
Democracias desenvolvidas, como França e Reino Unido, adotam práticas assim. Outras, como México e Colômbia, promovem essas reuniões de forma esporádica. Mas nenhum país levou as coletivas presidenciais ao patamar que elas ocupam nos EUA, onde configuram um ritual periódico.
Às vezes criticada por certos anacronismos de técnica eleitoral, a democracia americana está entre as que mais propiciam a porosidade do sistema político, sua capacidade de assimilar e irradiar movimentos de opinião como aquele, ainda recente, que elegeu o presidente Obama.
Conversas habituais entre o presidente norte-americano e grupos de jornalistas ocorriam desde pelo menos o início do século 20. Esses encontros se ritualizaram por volta de 1955, quando também passaram a ser transmitidos pela televisão, por iniciativa do então presidente Dwight Eisenhower.
Diferentemente de seu antecessor, que se sentia mais à vontade na retórica emocional das mensagens unilaterais, Dilma Rousseff dá indícios de confiar no debate objetivo e organizado dos problemas comuns.
Autênticas coletivas de imprensa são valioso instrumento para levar esse debate a público. Assumindo o compromisso de promovê-las periodicamente, a presidente daria um passo corajoso no rumo de conferir mais transparência ao governo.


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