São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2011 |
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KENNETH MAXWELL Moda Foi uma infelicidade que John Galliano, diretor de uma das mais famosas e lucrativas marcas de produtos de luxo, a Christian Dior, caísse em desgraça às vésperas da semana da moda de Paris. Que o britânico Galliano agisse de modo extravagante e extremo não constituiu surpresa, já que era conhecido pelas duas coisas. Mas a última gota foi seu rompante antissemita embriagado capturado por uma câmera de celular no La Perle, um bar do bairro do Marais; Galliano declarou seu amor por Hitler e fez menção a executar na câmera de gás as mulheres que estava agredindo. O chefe de Galliano, John Toledano, que comandou o último desfile das criações do estilista para a Dior, sem a presença dele, afirmou que "declarações como essa são inaceitáveis, porque nosso dever coletivo é jamais esquecermos o Holocausto e suas vítimas". Toledano é judeu, como muitos dos clientes, amigos e colegas de Galliano. O estilista até teve "namorados judeus", comentou um de seus colegas, aparentemente atônito. Natalie Portman, atriz premiada com o Oscar por seu papel em "Cisne Negro" e estrela da publicidade do perfume Miss Dior Chérie, disse que "como pessoa orgulhosa de ser judia, não quero me ver associada a Galliano de maneira alguma". Galliano foi demitido pela Dior devido ao seu "comportamento odioso", e teve de depor em uma delegacia de polícia de Paris. Enquanto isso, apesar do escândalo, todos os gurus da moda compareceram ao desfile de Galliano para a Dior, de Anna Wintour, editora-chefe da "Vogue", e Glenda Bailey, editora da "Harper's Bazaar", a Jonathan Newhouse, da Condé Nast International. Também estavam presentes os compradores de todas as lojas de departamentos mais sofisticadas, como Saks Fifth Avenue, Neiman Marcus e Harrods. Afinal, o que estava em jogo não era moda, e aliás nem Hitler, mas sim dinheiro. O presidente-executivo da LVMH, império dos produtos de luxo do qual a Dior faz parte, Bernard Arnault, presença habitual nos desfiles de moda da Dior, estava ausente. Arnault é o homem mais rico da França, com patrimônio bem superior a US$ 27 bilhões, e vem discretamente adquirindo uma participação importante no grupo de moda Hermès; na terça-feira desta semana, ele assumiu o controle da Bulgari, fabricante italiana de relógios e joias de luxo. A última das modelos da coleção de Galliano para a Dior subiu à passarela com uma chemise transparente. A imagem final que ela deixou foi a de seu traseiro nu. Se bem que não seja nada incomum para o Brasil na semana de Carnaval, em Paris isso serviu como epitáfio carnavalesco para um superastro da moda caído em desgraça. KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O melhor do Carnaval Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Juca Ferreira: Autos judiciais são arquivos culturais Índice | Comunicar Erros |
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