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DEMANDA POR SAÚDE
Por razões históricas que não
cabe aqui mencionar, o brasileiro desconfia de postos de saúde.
Quando, por algum motivo, precisa
de um médico, ele procura o hospital. De preferência um bom hospital,
como os HCs ligados às grandes universidades públicas.
O problema desse hábito é que ele
resulta num excesso de demanda pelos grandes hospitais. As filas para
atendimento num centro como o HC
de São Paulo podem chegar a vários
meses, o que, obviamente, é ruim para o hospital e, principalmente, para
o paciente. Assim, são justificáveis,
ainda que muito difíceis de pôr em
prática, os planos de vários grandes
hospitais de deixar de atender aos casos mais simples.
A saúde pública deve se organizar
num sistema no qual centros como o
HC de São Paulo ficariam com o chamado atendimento terciário, isto é,
os casos de maior complexidade. Os
mais triviais devem ser resolvidos em
postos de saúde e prontos-socorros
ou, melhor ainda, em programas como o Saúde da Família. Quando se
onera a rede terciária com milhares
de casos mais simples, cai a qualidade dos atendimentos de maior e de
menor complexidade. Numa fila de
meses, o estado de um paciente que
esteja com um problema sério pode
se agravar perigosamente.
A dificuldade está em convencer a
população de que ela não deve procurar os grandes hospitais. É importante não fechar autoritariamente as
portas da instituição para o paciente,
mas convencê-lo de que ele será mais
bem atendido num posto.
O HC da Unicamp está seguindo
um sistema interessante, que talvez
possa ser aplicado a outros hospitais. Casos que a triagem feita por enfermeiros classifica como não-urgentes recebem o código azul. O paciente não é rejeitado, mas informado de que, por não se tratar de emergência, sua consulta estará sujeita a
um tempo maior de espera. É também instruído a procurar um posto
de saúde nas próximas vezes.
Não é nada simples dissuadir a população de hábitos arraigados, mas
não há dúvida também de que o sistema de saúde pública precisa ser
mais bem equacionado. Caso contrário, como já começa a ocorrer,
hospitais como os HCs poderão se
tornar vítimas involuntárias de seu
próprio prestígio.
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