São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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DEMANDA POR SAÚDE

Por razões históricas que não cabe aqui mencionar, o brasileiro desconfia de postos de saúde. Quando, por algum motivo, precisa de um médico, ele procura o hospital. De preferência um bom hospital, como os HCs ligados às grandes universidades públicas.
O problema desse hábito é que ele resulta num excesso de demanda pelos grandes hospitais. As filas para atendimento num centro como o HC de São Paulo podem chegar a vários meses, o que, obviamente, é ruim para o hospital e, principalmente, para o paciente. Assim, são justificáveis, ainda que muito difíceis de pôr em prática, os planos de vários grandes hospitais de deixar de atender aos casos mais simples.
A saúde pública deve se organizar num sistema no qual centros como o HC de São Paulo ficariam com o chamado atendimento terciário, isto é, os casos de maior complexidade. Os mais triviais devem ser resolvidos em postos de saúde e prontos-socorros ou, melhor ainda, em programas como o Saúde da Família. Quando se onera a rede terciária com milhares de casos mais simples, cai a qualidade dos atendimentos de maior e de menor complexidade. Numa fila de meses, o estado de um paciente que esteja com um problema sério pode se agravar perigosamente.
A dificuldade está em convencer a população de que ela não deve procurar os grandes hospitais. É importante não fechar autoritariamente as portas da instituição para o paciente, mas convencê-lo de que ele será mais bem atendido num posto.
O HC da Unicamp está seguindo um sistema interessante, que talvez possa ser aplicado a outros hospitais. Casos que a triagem feita por enfermeiros classifica como não-urgentes recebem o código azul. O paciente não é rejeitado, mas informado de que, por não se tratar de emergência, sua consulta estará sujeita a um tempo maior de espera. É também instruído a procurar um posto de saúde nas próximas vezes.
Não é nada simples dissuadir a população de hábitos arraigados, mas não há dúvida também de que o sistema de saúde pública precisa ser mais bem equacionado. Caso contrário, como já começa a ocorrer, hospitais como os HCs poderão se tornar vítimas involuntárias de seu próprio prestígio.


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