São Paulo, sábado, 10 de abril de 2004

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

O custo-bravata

SÃO PAULO - A dialética esquerda X direita no interior do PT tem empurrado a corrente principal do partido para compromissos cada vez mais conservadores.
Foi o pólo da esquerda, cujo discurso a direita do partido administrou de acordo com suas conveniências nos tempos de oposição, que deu o pretexto para a crise de confiança pré e pós-eleitoral. As bravatas a que se referiu o presidente Lula eram a expressão retórica desse "esquerdismo" instrumentalizado, que pregava a ruptura com tudo-isso-que-aí-está.
E foi em boa medida por conta da crise que as opções da política econômica se estreitaram. Num quadro em que, descartada a ruptura, medidas tradicionais se impunham, a área econômica viu-se compelida a pagar o "custo-bravata" com redobrados esforços para adquirir credibilidade.
Perdeu-se um ano sem crescimento em demonstrações de valentia conservadora para simplesmente controlar o vendaval das incertezas. A pergunta que se faz agora -e não é casual que uma pequena batalha venha sendo travada em torno da política econômica- é se é isso mesmo ou se a custosa conquista de credibilidade servirá de base para mudanças.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo publicou um texto no qual prevê que essa dinâmica, por ele classificada como "o paradoxo da credibilidade", tenderá para o aprofundamento das opções conservadoras.
É o que estamos assistindo. É verdade que a lentidão com que os resultados relativos ao crescimento vão aparecendo favorece contestações, como o manifesto econômico do PT. A resposta é associar a crítica ao esquerdismo bravateiro de outros tempos e reafirmar os compromissos conservadores. É uma opção também paradoxal por estar sendo gerida por quem deveria reformulá-la.
Mas isso preocupa menos do que o fato de que algumas opiniões respeitáveis consideram-na condenada ao fracasso.


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