São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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KENNETH MAXWELL

A volta da América Latina

A SENADORA Hillary Clinton demoveu o principal estrategista de sua campanha, Mark Penn, no domingo passado.
Penn mantivera seu lucrativo posto como CEO da Burson-Marsteller, uma empresa de lobby de Washington, e isso produziu uma situação clássica de conflito de interesses. Penn se reuniu com representantes de um dos clientes de sua empresa, o governo da Colômbia, a fim de coordenar uma estratégia cujo objetivo seria facilitar a aprovação do acordo bilateral de livre comércio entre Colômbia e Estados Unidos no Congresso norte-americano.
O livre comércio se tornou um tema candente na atual campanha presidencial dos EUA, em Estados tradicionalmente industriais, como em Ohio e na Pensilvânia. Esses Estados sofreram imensas perdas de empregos nas últimas décadas, devastando sua classe trabalhadora, majoritariamente branca, católica e sindicalizada, que já não desfruta de empregos bem pagos na indústria, e das aposentadorias e benefícios médicos que costumavam estar vinculados aos empregos sindicalizados.
Os senadores Clinton e Obama estão envolvidos em uma disputa cada vez mais amarga e pessoal, especialmente na Pensilvânia, onde a primária de 22 de abril pode representar momento decisivo para a senadora Clinton, e onde ela tem (ou tinha) boa chance de reverter o ímpeto do senador Obama. Ambos os senadores se opõem ao acordo comercial com a Colômbia.
Mas Penn ainda assim realizou sua reunião com os colombianos, e informações sobre ela vazaram para o "Wall Street Journal". Isso propiciou um momento delicioso de revanche para a campanha de Obama. Em Ohio, um assessor de Obama conversou discretamente com diplomatas canadenses para garantir que eram "retóricas" as posições de oposição ao acordo de livre comércio com o Canadá e o México que o senador havia assumido no Estado. A campanha Clinton usou essa informação para solapar a credibilidade de Obama junto aos eleitores brancos de classe trabalhadora.
O Nafta foi uma das grandes realizações do presidente Bill Clinton, que continua a apoiar o acordo comercial com a Colômbia, principal aliado do presidente Bush na América Latina. De maneira curiosa, essas controvérsias trouxeram o "continente esquecido" -a definição de Michael Reid, editor para a América Latina da revista "Economist"- de volta a uma posição central no debate político dos EUA.
No Brasil, entretanto, o embaixador Rubens Ricupero ainda se preocupa com a Área de Livre Comércio das Américas. Alguém deveria informá-lo de que a idéia da Alca morreu no século passado.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna. Tradução de PAULO MIGLIACCI


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