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KENNETH MAXWELL
A volta da América Latina
A SENADORA Hillary Clinton
demoveu o principal estrategista de sua campanha,
Mark Penn, no domingo passado.
Penn mantivera seu lucrativo posto como CEO da Burson-Marsteller, uma empresa de lobby de
Washington, e isso produziu uma
situação clássica de conflito de interesses. Penn se reuniu com representantes de um dos clientes de
sua empresa, o governo da Colômbia, a fim de coordenar uma estratégia cujo objetivo seria facilitar a
aprovação do acordo bilateral de livre comércio entre Colômbia e Estados Unidos no Congresso norte-americano.
O livre comércio se tornou um
tema candente na atual campanha
presidencial dos EUA, em Estados
tradicionalmente industriais, como em Ohio e na Pensilvânia. Esses Estados sofreram imensas perdas de empregos nas últimas décadas, devastando sua classe trabalhadora, majoritariamente branca,
católica e sindicalizada, que já não
desfruta de empregos bem pagos
na indústria, e das aposentadorias
e benefícios médicos que costumavam estar vinculados aos empregos
sindicalizados.
Os senadores Clinton e Obama
estão envolvidos em uma disputa
cada vez mais amarga e pessoal, especialmente na Pensilvânia, onde a
primária de 22 de abril pode representar momento decisivo para a senadora Clinton, e onde ela tem (ou
tinha) boa chance de reverter o ímpeto do senador Obama. Ambos os
senadores se opõem ao acordo comercial com a Colômbia.
Mas Penn ainda assim realizou
sua reunião com os colombianos, e
informações sobre ela vazaram para o "Wall Street Journal". Isso
propiciou um momento delicioso
de revanche para a campanha de
Obama. Em Ohio, um assessor de
Obama conversou discretamente
com diplomatas canadenses para
garantir que eram "retóricas" as
posições de oposição ao acordo de
livre comércio com o Canadá e o
México que o senador havia assumido no Estado. A campanha Clinton usou essa informação para solapar a credibilidade de Obama
junto aos eleitores brancos de classe trabalhadora.
O Nafta foi uma das grandes realizações do presidente Bill Clinton,
que continua a apoiar o acordo comercial com a Colômbia, principal
aliado do presidente Bush na América Latina. De maneira curiosa, essas controvérsias trouxeram o
"continente esquecido" -a definição de Michael Reid, editor para a
América Latina da revista "Economist"- de volta a uma posição central no debate político dos EUA.
No Brasil, entretanto, o embaixador Rubens Ricupero ainda se
preocupa com a Área de Livre Comércio das Américas. Alguém deveria informá-lo de que a idéia da
Alca morreu no século passado.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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