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CARLOS HEITOR CONY
Água vem do ribeirão
RIO DE JANEIRO - Deu no "New York Times", "NYT" para os íntimos, que
os brasileiros estão preocupados com
"o presidente Da Silva", Lula para
nós outros. O motivo da preocupação
nada tem a ver com a taxa do desemprego, o fracasso do Fome Zero, a
concentração de renda que Da Silva
prometeu combater e que continua
aumentando de forma considerada
obscena pelos entendidos.
O principal jornal dos Estados Unidos garante que Da Silva tem tido
problemas e que vem apelando para
"bebidas fortes", aquelas que são destiladas em alambiques de boa procedência e que não podem ser confundidas com a água que todos bebemos.
Segundo uma marchinha de Carnaval antiga, a água vem do ribeirão
das Lajes. Do alambique vem outra
beberagem.
O "NYT" cita Leonel Brizola, companheiro de antigas jornadas de Da
Silva. Com a rudeza típica de gaúcho,
que prefere chimarrão a bebidas destiladas ou não, o ex-governador do
Rio teme que os neurônios de Da Silva comecem a ficar arruinados, o que
no fundo é um elogio ao presidente,
que é freqüentemente acusado de
não ter neurônio algum para ser arruinado.
O jornal nova-iorquino lembra que
o Brasil já teve um precedente, não
faz tanto tempo assim, por coincidência também um senhor Da Silva, pois
seu nome completo era Jânio da Silva
Quadros. Também cultivava sagrado
horror ao líquido que vinha do ribeirão e que os jornais antigos chamavam de "precioso". Jânio não apreciava os alambiques nacionais, preferia os da Escócia, que lhe alertaram
contra as forças terríveis que o fizeram renunciar.
Da Silva é um nacionalista convicto, tem o gosto, o gesto e o cheiro do
homem comum brasileiro. O outro
Da Silva era metido a inglês, falava
difícil e gastou horas de seu mandato
regulamentando brigas de galo, corridas de cavalo e concurso de misses.
O Da Silva atual passou uma noite
discutindo com os ministros o fechamento dos bingos. A água que vem
do ribeirão nada tem a ver com isso.
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