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Ladainha bolivariana
Governo Lula recusa-se a reconhecer eleições de Honduras e aposta na Unasul, mais uma sigla de ocasião no continente
O PRESIDENTE de Honduras, Porfírio Lobo, chamou de "arrogantes e
prepotentes" os dirigentes sul-americanos que
ameaçam boicotar a cúpula de
países da União Europeia e da
América Latina em Madri, na Espanha, nos próximos dias 17 e 18.
Referia-se, sobretudo, ao venezuelano Hugo Chávez, à argentina Cristina Kirchner e ao brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
A restrição à participação de
Honduras manifestou-se na semana passada, quando o presidente do Equador, Rafael Correa, na presidência rotativa da
Unasul (a União das Nações Sul-Americanas), mencionou o
"mal-estar majoritário" com o
convite da Espanha a Honduras.
Como se sabe, instalara-se
uma crise institucional em Honduras desde junho de 2009,
quando o então presidente Manuel Zelaya foi expulso do país
pelos militares, ao desamparo da
lei, após tentativa de aprovar
uma Constituinte por plebiscito,
ato considerado ilegal pelo Congresso e pela Corte Suprema.
A partir de setembro, a embaixada brasileira em Tegucigalpa
hospedou Zelaya por quatro meses. A ideia de forçar sua recondução ao cargo fracassou -e o
Brasil chegou muito perto de
romper o tradicional princípio
da não ingerência em assuntos
internos de outras nações.
O papel de mediador da crise
acabou exercido pelos EUA, que
costuraram o acordo para as eleições -a saída mais legítima e
aceitável para o longo impasse.
Ao apegar-se a uma posição demasiado formalista contra o pleito e ao negar-se, ainda hoje, a reconhecer o governo eleito, o Brasil prolonga sua desastrada atuação no episódio. E reforça a ideia
de que almeja se credenciar a
qualquer preço como liderança
alternativa à dos EUA na América Latina.
Quanto à Unasul, o governo
brasileiro parece acreditar que
deva rivalizar com a OEA (a Organização dos Estados Americanos), que tem nos EUA a principal liderança.
Criada há apenas dois anos, a
entidade acaba de eleger o ex-presidente argentino Néstor
Kirchner como seu primeiro secretário-geral. Em 2004, quando
foi idealizada, Kirchner a boicotou com ironia, chamando-a de
"criação do Brasil".
Até aqui a Unasul não passa de
uma sigla de ocasião, mais um fórum para amplificar a ladainha
bolivariana e antiamericanista a
que se reduziu o discurso de esquerda no continente.
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