São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Emoções

RIO DE JANEIRO - Pode parecer sarcasmo ou leviandade, mas para o cronista mais ou menos irresponsável que sou eu, a notícia da morte de Osama bin Laden teve, como subproduto, um mérito considerável na mídia universal.
Ela chutou para escanteio o casamento real na Inglaterra, com Londres transformada numa Disneylândia para adultos exaltados e para a mídia deslumbrada. Cansei de ver os cavalos da guarda real.
Não fora a complicada e polêmica morte do terrorista mais procurado do mundo, estaríamos ainda na base de procurar saber qual foi o primeiro café da manhã da lua de mel do casal, como era e de que era feita a camisola do dia (ou da noite) que a nubente usou, os planos do príncipe de fecundar a princesa para garantir a dinastia dos Windsor -temas palpitantes que a mídia exploraria até aos limites permitidos pela decência pública.
Ficamos livres desses emocionantes detalhes e caímos, não no casamento real da Inglaterra, mas na real de um mundo que não se parece com os filmes da Disney. Aliás, não se parece com filme algum, embora produtores e cineastas já estejam levantando custos, locações, roteiros e elencos para fazer dos "Seals" que mataram Osama bin Laden uma tropa de elite como a nossa, que baterá recordes de bilheteria.
Em termos de espetáculo, estamos bem providos, pois além da caçada ao terrorista e do casamento real, ficamos sabendo que nós, os homens deste pobre mundo, somos dotados de um "plus" que a natureza nos deu para devidas ou indevidas finalidades.
Não somente os Windsor se preocupam em manter a dinastia. De certa forma, e com justificado entusiasmo, todos colaboramos para aquela dinastia que Machado de Assis desprezou, fazendo seu personagem mais importante não transmitir a ninguém o legado da miséria humana.


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