São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Verde que te quero verde

GILBERTO KASSAB


Todos nós temos a responsabilidade de contribuir para uma vida melhor na Terra nos próximos anos e décadas


QUANDO RECEBE as informações com clareza e se conscientiza do papel que lhe cabe desempenhar, o brasileiro participa com uma responsabilidade que impressiona, comove. Tivemos exemplos dessa conduta cidadã em vários episódios recentes.
No lançamento do Plano Real, em 1994, o país trocou de moeda sem o menor atropelo em 72 horas. Um feito único no mundo, para uma população de quase 160 milhões, à época. Dois anos depois, nas eleições de 1996, começamos a mostrar ao mundo que uma votação pode ser feita em urnas eletrônicas. Hoje, o Brasil causa admiração internacional por apurar os votos de mais de 100 milhões de eleitores em apenas 24 horas.
Na cidade de São Paulo, agora em 2007, temos novo exemplo de participação coletiva com a rápida adesão dos paulistanos à Lei Cidade Limpa, publicada em 1º de janeiro. Em poucos meses, comerciantes de todos os portes e empresários se mobilizaram na retirada de placas, outdoors e cartazes que encobriam a verdadeira face da maior cidade da América Latina.
Em muitos casos, o desmascaramento revelou fachadas artísticas que só os mais idosos conheciam. Em outros, expôs estragos que se perpetuavam e agora terão a correção apropriada. A prefeitura vai ajudar os pequenos e médios comerciantes nas reformas das fachadas com isenção de IPTU. É parte do esforço para acabar com a poluição visual da cidade. Essa é a poluição que se combate com mais rapidez e a custo mais baixo.
Seus resultados -uma São Paulo mais limpa, mais bonita- com certeza vão levar a população a construir uma cidade mais equilibrada em todos os sentidos, em relação ao ar, à água, ao ruído, ao uso do solo e, enfim, o mais importante, com justiça e equilíbrio entre os homens e mulheres que vivem em São Paulo. Vejam um pouco de nossa contribuição para esse objetivo:
No dia 5/6, iniciamos a captação de metano do aterro São João, em São Paulo. Como já fazemos em outro aterro em Perus. Isso significa um importante feito da cidade para ajudar na tarefa da humanidade de conter o aquecimento global. São Paulo está diminuindo, no mínimo, 20% das suas emissões totais de gases de efeito estufa. Que outra grande cidade do mundo alcançou tal patamar?
Assinamos contrato com a Bolsa de Mercadorias & Futuros para fazer um leilão transparente público, até julho de 2007, dos créditos de carbono conseguidos pela cidade em 2006. Esperamos arrecadar cerca de R$ 30 milhões, que serão integralmente aplicados na região da cidade onde estão os aterros que geraram esse crédito.
No dia 6/6, dei ordem de início ao programa de inspeção veicular. Uma espera de dez anos. Uma dívida com a saúde das famílias paulistanas que perdem no mínimo um ano e meio de vida devido à poluição dos 5 milhões de veículos. Veículos inspecionados e regulados significam 30% a menos de impacto na saúde dos cidadãos, além de uma economia para os proprietários, que, com o veículo regulado, gastam em média 10% a menos de combustível. Isso também significa menos emissão de gases de efeito estufa.
Já havíamos começado em 2005 inspecionando nossos ônibus, porém agora se trata de um programa mais abrangente e generoso.
São Paulo hoje é uma cidade ativa nos fóruns mundiais de combate à poluição do ar e aos gases de efeito estufa. Somos da Direção Executiva do Iclei e coordenamos o Centro de Ar Limpo para a América Latina, ligado ao Banco Mundial. Agora somos da Executiva do C40, grupo das 40 maiores cidades do mundo, que se comprometeram com o desenvolvimento sustentável e têm a colaboração da Fundação Clinton.
Podemos também destacar nossa parceria com o governo estadual para a defesa das águas na cidade. Água limpa, mananciais protegidos, criação da guarda ambiental, além da limpeza de 40 córregos em contrato com a Sabesp até dezembro de 2008.
Quase um século atrás, o espanhol Federico García Lorca (1898-1936) escreveu o poema "Romance Sonâmbulo", cujo primeiro verso -"Verde que te quero verde"- bem poderia servir de bandeira para uma campanha de toda a humanidade por um planeta mais saudável. Todos nós temos a responsabilidade de contribuir para uma vida melhor na Terra nos próximos anos e décadas.
No Brasil, felizmente, podemos contar com a participação cidadã. As autoridades, em todos os níveis, têm a obrigação de informar e dar as grandes linhas para que a sociedade faça sua parte. Convocado, esclarecido, motivado, o brasileiro vai participar.
Quem trocou sua moeda em apenas três dias, votou certo na urna eletrônica desde a primeira vez, viabilizou a Lei Cidade Limpa, com certeza responderá ao apelo para se empenhar pelo bem das futuras gerações.

GILBERTO KASSAB , 46, engenheiro e economista, é o prefeito de São Paulo pelo DEM. Foi deputado federal (1999-2004) e estadual (1995-98), vereador (1993-94) e secretário municipal de Planejamento (1997-98).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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