|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
"O lado podre da hipocrisia"
BRASÍLIA - Não bastasse Lula
abraçar e elogiar Fernando Collor
(que ajudou a derrubar), defender
Renan Calheiros, se aliar a Jader
Barbalho e achar bacana o governador Cid Gomes contratar jatinho
para uma farra em família(s) na Europa com dinheiro público, Lula
agora ataca a lei. A lei!
Segundo ele, o veto a verbas federais para prefeituras três meses antes das eleições (para evitar compra
de votos e favorecimento) é "falso
moralismo" e o "lado podre da hipocrisia brasileira".
O problema não parece ser só
com essa lei, mas com qualquer
uma votada pelo Congresso de "300
picaretas" que atrapalhe seus planos e contrarie suas vontades, pois,
como reis e crianças mimadas, Lula
não pode ser contrariado.
Foi assim com a Varig. Lei que limita em 20% o capital externo no
setor? Deixa para lá. Prazos, recursos, pareceres? Deixa para lá. Juiz?
Deixa para lá. Nas reuniões internas, Dilma Rousseff ia logo avisando que "o governo não vai se submeter à decisão de um juiz de quinta...", como relatou o então presidente da Anac, Milton Zuanazzi,
em e-mail para Dilma, que ele nega
e todo mundo confirma.
Já que a lei não vale nada e o juiz é
"de quinta", dá-se um jeito na lei e
no juiz. Assim, o juiz Luiz Roberto
Ayub aproximou-se do governo e
parou de contrariar o presidente, o
compadre do presidente e a ministra. Abandonou o "falso moralismo" e passou a contrariar a lei.
A oposição não tem muito o que
fazer. Falar em CPI está fora de
questão, por motivos óbvios. E
quem pode atirar a primeira pedra,
com os governos tucanos fazendo
água? Em Alagoas, o barco já afundou. No Rio Grande do Sul, uma fita
do vice-governador com o secretário do governo encharcou a gestão
Yeda Crusius. Em São Paulo, covistas, serristas e alkimistas dividem
os respingos da Alstom.
Lula se coloca acima da lei, e os
tucanos estão debaixo d'água. A
quem recorrer? Ao bispo.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Contadores de histórias. E só Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O rio assassino Índice
|