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Comece a pedir e dar carona
LINCOLN PAIVA
Conhecida no mundo inteiro como "carpool" ou "rideshare", a carona solidária é uma alternativa simples e eficaz
O TRÂNSITO de Lisboa não é intenso e agressivo como o de
São Paulo e a capital portuguesa conta com uma excelente infra-estrutura fluvial, ferroviária e metroviária, além de bondes elétricos e ônibus.
Mesmo assim, os cidadãos portugueses optaram pelo chamado "carpool"
para se deslocar. Lá, o sistema de carona solidária conta com cerca de mil
pessoas.
Morei em Portugal por algum tempo e, no ano passado, quando ainda
estava lá, eu e uma amiga falávamos
sobre o seriado "Carpoolers", que estreou em maio deste ano na TV a cabo
brasileira. Conta histórias da convivência de um grupo de caronistas ecologicamente responsáveis.
O assunto veio à tona porque, na
época, o Parlamento Europeu bombardeava a mídia local com as preocupações sobre a redução das emissões
de CO2. Portugal precisava encontrar
soluções para se adequar às novas regras, e o "carpool" parecia ser uma
ótima idéia.
No Brasil, a carona solidária ainda
não penetrou no cotidiano das pessoas, mas já há um esforço nesse sentido. A Secretaria do Meio Ambiente
do Estado de São Paulo lançou, no último dia 28/5, a campanha Carona
Legal, um incentivo para a população
compartilhar os trajetos de carro.
Conhecida no mundo inteiro como
"carpool" ou "rideshare", a carona solidária é uma alternativa simples e
eficaz. A idéia surgiu em vários lugares com objetivo semelhante, mas
por motivos diferentes.
Na Europa, a carona foi estimulada
pelo Parlamento para que cada país
cumprisse sua cota na redução de
emissão de CO2. A utilização de automóveis na União Européia tem um
impacto significativo nas alterações
climáticas, na medida em que representa 12% das emissões globais. Diante desse problema, as autoridades
comprometeram-se em minimizar os
impactos do trânsito no efeito estufa
e estabelecer objetivos para melhorar
a eficiência energética.
O cidadão europeu leva muito a sério as questões ambientais. Assim, a
energia limpa e renovável é uma realidade em alguns países da Europa e a
carona passou a fazer parte da vida
urbana.
Nos EUA, a idéia da carona foi impulsionada pelo "global warming",
pela crise imobiliária, pelo aumento
no custo da gasolina e pela dependência do petróleo estrangeiro, além do
trânsito caótico. O "carpool" passou a
ser uma solução economicamente
viável, ecologicamente correta e socialmente responsável.
No Canadá, a alternativa surgiu por
uma questão de saúde pública. A Secretaria de Saúde do país estima que
cerca de 16 mil canadenses morram
prematuramente por ano e que o número de internações de crianças por
doenças pulmonares esteja diretamente relacionado ao aumento da
poluição atmosférica. O governo canadense irá gastar aproximadamente
US$ 1 bilhão em 2008 com programas associados à poluição.
Há também quem opte pelo esquema para economizar. Um trabalhador
que utiliza um veículo 1.6 numa cidade como São Paulo roda em média 18
mil quilômetros por ano, consumindo um litro de gasolina a cada dez quilômetros. Isso resulta num custo de
aproximadamente R$ 5 mil anuais,
sem contar o tempo perdido no trânsito e as despesas com pneus, troca de
óleo, revisão, entre outros. Com a carona, ele pode economizar até R$ 3,5
mil. Uma diferença significativa no
orçamento familiar.
A Universidade Stanford (EUA)
criou um sistema de incentivo para
utilização do "carpool" entre os alunos com vagas de estacionamentos
exclusivas para caronistas e compensações em dinheiro. Empresas desenvolvem programas de incentivos pontuando o funcionário que chega de bicicleta, "carpool", van ou a pé. As premiações variam de carros ecoeficientes a GPS e vagas em estacionamento.
A carona é um compromisso com a
comunidade, com a cidade, com a
saúde pública e com a vida.
O sistema já existe aqui. Lançado
durante a primeira Mostra de Tecnologias Sustentáveis, organizada pelo
Instituto Ethos no fim de maio, o projeto MelhorAr reforça as ações do governo estadual e propõe redução de
veículos por meio de caronas corporativas. A idéia é atingir primeiro o
público interno das grandes empresas para depois abranger a população
como um todo.
É preciso desenvolver um senso de
cidadania, no qual cada um tenha
consciência de seu papel no futuro do
planeta. A carona solidária pode, sim,
ser uma realidade no Brasil.
LINCOLN PAIVA, 40, formado em comunicação social, sócio da Believe Comunicação Viva, é idealizador do Projeto
MelhorAr.
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