|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O desastre consentido
SÃO PAULO - O editorial do "New
York Times" que pede a retirada
das tropas norte-americanas do
Iraque tende a ser um divisor de
águas, que poderia ser resumido assim: "Até aqui, chegamos. Agora é
hora de rever tudo".
Pena que o editorial não fecha. Ao
pedir uma retirada "ordeira", está
pedindo o impossível. Só haveria
chance de uma retirada organizada
se os EUA conseguissem pôr para
funcionar o Estado iraquiano ou, no
mínimo, suas forças de segurança,
hipóteses que o editorial descarta.
O que choca no desastre iraquiano, entre tantas coisas, é o fato de
ele ter sido promovido por uma democracia. A aventura iraquiana e
todas as mentiras contadas para
justificá-las são coisas de ditaduras
primitivas. Lembra, ainda que remotamente, a aventura da ditadura
argentina nas Malvinas.
Agora, é fácil jogar nas costas do
presidente George Walker Bush toda a responsabilidade. Ele a tem,
como é óbvio, mas a sociedade norte-americana comportou-se, no pós
11 de Setembro, da mesma maneira
bovina que é comum no Brasil.
Aceitou acriticamente mentiras,
tergiversações, falta de planejamento, aceitou até arranhões graves nas liberdades civis e no tratamento de prisioneiros (Guantánamo é uma aberração que, de novo,
só parecia possível nas piores ditaduras). Mais que aceitar, referendou tudo ao dar a George Walker
Bush um segundo mandato faz apenas dois anos e meio, quando todos
os problemas no Iraque já estavam
presentes, ainda que a escala pudesse ser diferente.
Entre parênteses, é bom anotar
como os tempos se encurtaram no
mudo contemporâneo. Em menos
de dois anos, passa-se da glória da
reeleição ao inferno da rejeição.
Pior, para os EUA: não está à vista
candidato para 2008 que tenha antecipado pelo menos parte dos problemas agora evidentes nem que tenha um plano alternativo com começo, meio e fim.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Chapa-branca nos ares Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: À sombra Índice
|