São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O desastre consentido

SÃO PAULO - O editorial do "New York Times" que pede a retirada das tropas norte-americanas do Iraque tende a ser um divisor de águas, que poderia ser resumido assim: "Até aqui, chegamos. Agora é hora de rever tudo".
Pena que o editorial não fecha. Ao pedir uma retirada "ordeira", está pedindo o impossível. Só haveria chance de uma retirada organizada se os EUA conseguissem pôr para funcionar o Estado iraquiano ou, no mínimo, suas forças de segurança, hipóteses que o editorial descarta.
O que choca no desastre iraquiano, entre tantas coisas, é o fato de ele ter sido promovido por uma democracia. A aventura iraquiana e todas as mentiras contadas para justificá-las são coisas de ditaduras primitivas. Lembra, ainda que remotamente, a aventura da ditadura argentina nas Malvinas.
Agora, é fácil jogar nas costas do presidente George Walker Bush toda a responsabilidade. Ele a tem, como é óbvio, mas a sociedade norte-americana comportou-se, no pós 11 de Setembro, da mesma maneira bovina que é comum no Brasil.
Aceitou acriticamente mentiras, tergiversações, falta de planejamento, aceitou até arranhões graves nas liberdades civis e no tratamento de prisioneiros (Guantánamo é uma aberração que, de novo, só parecia possível nas piores ditaduras). Mais que aceitar, referendou tudo ao dar a George Walker Bush um segundo mandato faz apenas dois anos e meio, quando todos os problemas no Iraque já estavam presentes, ainda que a escala pudesse ser diferente.
Entre parênteses, é bom anotar como os tempos se encurtaram no mudo contemporâneo. Em menos de dois anos, passa-se da glória da reeleição ao inferno da rejeição.
Pior, para os EUA: não está à vista candidato para 2008 que tenha antecipado pelo menos parte dos problemas agora evidentes nem que tenha um plano alternativo com começo, meio e fim.

crossi@uol.com.br


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