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MARCOS NOBRE
Neocons
HÁ MENOS de um ano e meio
do fim do seu segundo
mandato, o presidente
George W. Bush concedeu uma comutação de sentença para o ex-chefe-de-gabinete da Vice-Presidência, I. Lewis Libby Jr., antes
condenado a 30 meses de prisão
por crimes vinculados à revelação
da identidade de uma agente secreta da CIA. O vice-presidente, Dick
Cheney, foi o mentor e principal
defensor da decisão de invadir o
Iraque.
É mais uma derrota que vem se
somar a uma série. Algumas das
principais figuras dos anos Bush
foram varridas do mapa em questão de semanas. O embaixador dos
EUA na ONU, John Bolton, foi
substituído. Paul Wolfowitz foi
obrigado a renunciar à presidência
do Banco Mundial. E o advogado-geral, Alberto Gonzales, continua
sob pressão para renunciar. A derrocada do governo Bush inclui ainda índices de popularidade historicamente baixos e críticas duras por
membros de seu próprio partido. E
os democratas agora têm maioria
no Congresso.
É um duro golpe para os "neocons", como são chamados os neoconservadores norte-americanos
desde os anos 1970. Mas vai além
disso. Os neocons dos dois mandatos de Georg W. Bush são diferentes porque são empreendedores
beligerantes, que não se contentam apenas em deixar tudo como
está. Querem impor seus interesses e, sobretudo, sua concepção de
vida não só aos EUA, mas ao mundo todo.
Tentam impor o chamado "criacionismo" nas escolas públicas, em
lugar da teoria da evolução das espécies de Darwin. Políticas de saúde e de assistência social passaram
a incluir a exigência de educação da
abstinência sexual, em lugar de difundir a utilização de métodos de
contracepção, por exemplo. Realizaram cortes de impostos e estabeleceram subsídios que só beneficiaram os mais ricos. No que chamam de "guerra contra o terror",
fizeram prisioneiros que não foram formalmente acusados nem
têm direito a habeas corpus.
A política externa do governo
Bush foi desastrosa em todos os
sentidos. Ao golpear duramente os
dois grandes inimigos do Irã (os
partidários de Saddam Hussein e o
Taleban), fortaleceu a posição de
seu maior adversário na região.
Conseguiu piorar ainda mais a instabilidade na África e no Oriente
Médio. Criou uma divisão com a
Europa e minou as bases do seu
único aliado incondicional, o que
custou o cargo a Tony Blair. A
América do Sul foi solenemente ignorada.
Apesar dessa derrocada, ainda é
cedo para dizer que o maniqueísmo belicoso dos anos Bush vai arrefecer. A única coisa de certo é que
as obscuras forças reacionárias que
libertou vieram para ficar. E não só
nos EUA.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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