São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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MARCOS NOBRE

Neocons

HÁ MENOS de um ano e meio do fim do seu segundo mandato, o presidente George W. Bush concedeu uma comutação de sentença para o ex-chefe-de-gabinete da Vice-Presidência, I. Lewis Libby Jr., antes condenado a 30 meses de prisão por crimes vinculados à revelação da identidade de uma agente secreta da CIA. O vice-presidente, Dick Cheney, foi o mentor e principal defensor da decisão de invadir o Iraque.
É mais uma derrota que vem se somar a uma série. Algumas das principais figuras dos anos Bush foram varridas do mapa em questão de semanas. O embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, foi substituído. Paul Wolfowitz foi obrigado a renunciar à presidência do Banco Mundial. E o advogado-geral, Alberto Gonzales, continua sob pressão para renunciar. A derrocada do governo Bush inclui ainda índices de popularidade historicamente baixos e críticas duras por membros de seu próprio partido. E os democratas agora têm maioria no Congresso.
É um duro golpe para os "neocons", como são chamados os neoconservadores norte-americanos desde os anos 1970. Mas vai além disso. Os neocons dos dois mandatos de Georg W. Bush são diferentes porque são empreendedores beligerantes, que não se contentam apenas em deixar tudo como está. Querem impor seus interesses e, sobretudo, sua concepção de vida não só aos EUA, mas ao mundo todo.
Tentam impor o chamado "criacionismo" nas escolas públicas, em lugar da teoria da evolução das espécies de Darwin. Políticas de saúde e de assistência social passaram a incluir a exigência de educação da abstinência sexual, em lugar de difundir a utilização de métodos de contracepção, por exemplo. Realizaram cortes de impostos e estabeleceram subsídios que só beneficiaram os mais ricos. No que chamam de "guerra contra o terror", fizeram prisioneiros que não foram formalmente acusados nem têm direito a habeas corpus.
A política externa do governo Bush foi desastrosa em todos os sentidos. Ao golpear duramente os dois grandes inimigos do Irã (os partidários de Saddam Hussein e o Taleban), fortaleceu a posição de seu maior adversário na região.
Conseguiu piorar ainda mais a instabilidade na África e no Oriente Médio. Criou uma divisão com a Europa e minou as bases do seu único aliado incondicional, o que custou o cargo a Tony Blair. A América do Sul foi solenemente ignorada.
Apesar dessa derrocada, ainda é cedo para dizer que o maniqueísmo belicoso dos anos Bush vai arrefecer. A única coisa de certo é que as obscuras forças reacionárias que libertou vieram para ficar. E não só nos EUA.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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